domingo, 18 de dezembro de 2011

TEMPO DE PAUSA

Nesta época somos impelidos a fazer uma paragem no tempo para reflexão e para dar tréguas às adversidades que sistematicamente nos assolam e vão esculpindo a nossa caminhada. Não falemos pois de crise, nem do xadrez da política ou das labutas sem fim do dia-a-dia.
A vida é um permanente estado de parceria entre inconformismo e aceitação. Estar vivo e apreciar a vida com total sanidade implica não exigir mais do que a vida nos dá, sem contudo deixar de procurar incessantemente o melhor que ela nos pode proporcionar.
Viver acompanhado pelos pensamentos é uma forma de estarmos conosco próprios. Os pensamentos levam-nos a formular a opinião do que observamos à nossa volta e a tomar um lugar na sociedade. É que nos dá a consciência de nós próprios enquanto pessoas e enquanto seres sociais. São a nossa âncora e a ponte que nos liga ao mundo. Opinar não é pois um mero exercício de retórica; é um sopro vital e libertador, como tal precisa da liberdade de expressão como coisa fundamental. Viver em regimes opressivos castradores da liberdade de expressão deve ser uma coisa horrível. Felizmente nunca senti essa opressão e posso opinar e gozar do meu livre arbítrio. Só por isso considero-me uma pessoa feliz.
De resto, saber viver com a nostalgia dos dias é tão importante como o sorriso da felicidade ou as gargalhadas de alegria. A aceitação do que não podemos evitar é tão importante como a renúncia do que não queremos ou a tolerância do que é diferente. Saber viver é estar reconciliado com a vida. Apreciar os outros pelo seu lado melhor e não cair na tentação de exigir deles mais do que eles têm para dar, pois na verdade “o que temos para dar aos outros começa dentro de nós” (lema deste blogue) e não se determina, nem se cobra.
Os afectos, por outro lado, são o que dá sentido e tempero à vida. Já vi desaparecer alguns entes queridos, já partilhei despedidas dilacerantes, sei como isso é duro, provavelmente vou partilhar muitas mais. Também um dia eu desaparecerei ou poderei faltar a alguém para quem sou querida, mas isso é o preço que temos que pagar por esta coisa maravilhosa com que fomos presenteados, que é a vida, e por termos sentimentos que nos fazem vibrar de emoção.
Nesta época de tréguas, apreciemos o facto de termos vindo ao mundo e de podermos palpitar em cada respiro. Apaixonem-se pela vida, o vosso melhor presente. Feliz Natal.

domingo, 11 de dezembro de 2011

EUROCETICISMO

Sinceramente não vejo futuro para esta União Europeia. Desejaria que a UE fosse um projecto a longo prazo, duradoiro e credível, mas não acredito no actual formato.
A construção europeia não faz sentido sem democracia e a democracia não é compaginável com a pobreza que é para onde esta UE nos está a atirar, com o buraco negro em que a economia europeia se tornou. Todos sabemos que o BCE está a cobrar juros de 1% para emprestar dinheiro aos bancos privados e estes elevam o preço do dinheiro a níveis exponenciais, servindo de intermediários e fazendo pressão sobre os devedores através de um sórdido jogo em que o trunfo é a alegada falta de confiança dos mercados, o álibi para que os juros da dívida se mantenham em alta, agravando ainda mais a situação dos países em dificuldades que estão a entrar em recessão, como é o caso de Portugal. Ora isto interessa sobretudo aos grandes bancos alemães e franceses que estão no topo da pirâmide da financeirização da Europa. A Srª Merkel e o Sr. Sarkozi estão a defender os interesses dos grande grupos financeiros e não da Comunidade Europeia. O resultado da cimeira europeia, não trazendo nada de novo para além do expectável, não deixa por isso de ser uma decepção. E que comunidade é esta que está à mercê da vontade dos dirigentes de dois países ao serviço de interesses financeiros duvidosos?
Por outro lado, alguns perguntam-se: Mas porque haveriam os laboriosos países ricos do norte ser solidários com os países de la dolce vida e preguiçosos do sul e confundirem-se com os miseráveis “pigs”?
Pela simples razão que aqueles precisam destes para crescer economicamente. Pois a quem irão vender a sua produção excedentária? À China que produz tudo a preços muito mais baixos que os europeus?
O resultado da cimeira foi assim um “logo se vê”. Sem um plano de contingência se as coisas correrem mal, cá dentro resta-nos rezar à Nossa Senhora de Fátima.  
O Euro está com um problema sistémico e requer uma solução conjunta e colectiva, através de uma regulação dos mercados, que impossibilite a prática pronográfica das actuais taxas de juro da dívida. A solução passaria no meu entender por permitir o financiamento dos países directamente no BCE com taxas reduzidas em paralelo com o controlo das contas nacionais aos países assistidos, provavelmente com um alargamento dos prazos de ajustamento financeiro necessário para equilibrar as economias e atingir o ponto de equilíbrio dos ratios. Não vejo vontade política na EU para atalhar com medidas neste sentido.
De outro modo, a seguir o rumo que Merkel e Sarkozi pretendem, a Europa continuará o seu declínio e vai acabar por se estatelar em um qualquer apocalipse económico de que ninguém consegue exactamente estabelecer os contornos.
Sendo as questões económicas o cerne da política soberanística, a imposição exterior de inscrever na Constituição dos países membros um limite à dívida é um escabroso atentado à autodeterminação e é perfeitamente desnecessária, uma vez que o Pacto de Estabilidade Europeu já prevê um limite para a dívida (60% do PIB) e para o défice (3% do PIB), limites que ninguém cumpriu nem mesmo a Alemanha.
É obvio que Portugal geriu mal a sua dívida e estamos a pagar por isso, lidamos hoje com uma necessidade puramente financeira que nos coloca numa total dependência externa. É certo que esta gestão tem que ser aferida, com medidas financeiras reguladoras e equilibradas e políticas económicas estratégicas, por forma a não pisar a linha vermelha que estabelece a fronteira da sanidade das contas nacionais e garantir uma maior auto sustentabilidade do país.
Porém, a solução não passa por imposições para nos transformar em pequenos alemães porque nunca o seremos, por todas as razões.
Razão tiveram os ingleses em demarcar-se do Euro. Na verdade, esta moeda está a revelar-se um fiasco, não na sua essência, mas pelos vícios e interesses que a distorcem.   
Assim, passada mais uma cimeira, a construção europeia democrática está e vai continuar ela também em crise e a ameaçar a soberania dos países pejorativamente ditos “periféricos”. Soberana mesmo, só temos a dívida.
Cá estaremos para o que der e vier, pois não temos como fugir. Que Nossa Senhora de Fátima nos valha.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SILÊNCIO ENSURDECEDOR

Estamos a entrar numa época de reflexão e reconciliação. O Natal apela ao nosso lado mais espiritual e humano, reclamando mais brandura e afecto de todos nós.
Porém, o carrossel da perversidade não se detém nunca e eis que esta semana surge uma notícia horrenda e chocante, sinal gritante de mais uma história de terror oculta no recato de quatro paredes de um falso lar. Impossível ignorar, por mais que o assunto repudie e nos induza a não falar sobre ele, pelo mal-estar que causa na nossa existência normal, apesar de tudo, confortável e tranquila.
Em França, um menino de três anos foi metido na máquina de lavar pelo próprio pai que posteriormente ligou o aparato num programa de secagem de roupa com a criança lá dentro, perante a impotência da mãe, presente em casa, que invocou o carácter violento e dominador do pai para não ter actuado de forma a impedir o acto que levou à morte do pequeno Bastian.  
Inimaginável, e sem outros adjectivos para qualificar o crime porque não há palavras… como nunca há para actos desta natureza, e todas as que se proferirem são ensurdecedoras. Tal como o silêncio…  
Pobre criança que na sua perigosa inconsciência infantil cometeu o gravoso erro de se portar mal no infantário, rasgando o desenho de um colega. Que infelicidade este menino ter um monstro no lugar de pai e não ter nascido com dons de premonição para não cometer actos que tais, susceptíveis de desencadear a ira do monstro de que estava cativo. Este menino não tinha blindagem que o defendesse das garras de um tresloucado e ninguém para o proteger desta fera.
Criatura inenarrável aquele pai, que deste nome não é digno, nem de nenhum outro que o conote sequer com um ser. Será mais adequado chamar-lhe a “coisa”.
Atordoante a conduta passiva e a indiferença da mãe, como se tudo se tivesse tratado de uma inevitabilidade.
Na minha impotência só me resta desejar muito forte que a justiça tenha mão pesada para estes dois e que, se tiverem ainda um mínimo de consciência, se afoguem no seu próprio veneno.    
É Natal! Paz e amor a toda a Humanidade!
Nota: A morte por violência doméstica e familiar é, segundo as estatísticas, o segundo dos crimes mais registados contra as pessoas, o quarto no total das participações criminais em Portugal (sabe-se que muitíssimas situações nunca chegam a ser denunciadas). Por cá são largas dezenas as vítimas, todos os anos. Muitas mais pessoas são alvo de maus-tratos de toda a natureza, sendo as principais vítimas as crianças, as mulheres e os velhos.    

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TIQUES MANIQUEÍSTAS


Portugal é um país de “feios, porcos e maus” em oposição ao grupo dos virtuosos. E todos são uma coisa e outra, conforme o lado da barricada em que se encontra o protagonista da história. O observador olha os outros como “feios, porcos e maus” e desconfia deles. E quem são estes feios pigs mal cheirosos?  
São agora os funcionários públicos que, encostados ao emprego para a vida e aos subsídios, não querem trabalhar, reclamam sempre que lhes apontam metas para cumprir tarefas e transformam o Estado num odre obeso, inchado, parasitário e paralisador da economia.
São os patrões e empresários que exploram os trabalhadores e os esmifram até ao tutano, fogem aos impostos e contribuições, são unhas-de-fome no que toca a salários e se puderem despedem os pobres trabalhadores por “dá cá aquela palha”.
São os trabalhadores que chulam os patrões, bufam nas suas costas, reivindicam direitos que a lei lhes consagra sem querer saber da sanidade da empresa ou entidade que lhes dá emprego e prontos a morder a mão de quem lhes dá de comer e a fazer greves
São os políticos e governantes que desgovernam o país e se governam a eles com os dinheiros públicos, fazem as políticas à medida dos seus interesses e dos lobbies que os apoiam, gastam à tripa-forra para ganharem votos e estão-se nas tintas para o borra-botas do Zé Povinho.
É o povinho que é boçal e ignorante, esse papalvo abstencionista que só gosta de novelas e de futebol e não percebe nada de política, que se mete nos copos, só diz baboseiras e bate punhetas às sextas-feiras, depois de uma semana desinteressante e na perspectiva de um fim-de-semana mais desinteressante ainda.
São os banqueiros, agiotas especuladores e oportunistas que enriquecem a poder de negociatas, usufruem de salários milionários riem-se dos pelintras e ainda lhes levam o couro e o cabelo quando não têm dinheiro para pagar os empréstimos, e dão de frosques quando as coisas vão para o torto na instituição bancária onde se espojaram durante anos a fio.
São os “justiceiros” deste país que não prendem quem deveriam, adormecem de propósito em cima dos processos e tornam a justiça uma velha virulenta mais parecida com uma bruxa de que todos se vêm impelidos a fugir para bem longe.
São os grupos corporativos, que se arrogam de plenos direitos no que toca aos seus interesses pequeno-burgueses ou aristocráticos e berram e vociferam como animais ferozes, de dentuça arreganhada, prontos a devorar qualquer cordeirinho que se lhes atravesse no caminho.
São os sindicalistas, esses espantalhos aventesmas sem imaginação, com cheiro a mofo e tresandando a cânfora para prevenção das traças que já os deviam ter comido há muito, filados à greve como o cão a um osso. A greve á a sua bandeira e não têm outro objectivo na vida que somá-las no seu curriculo.
Em resumo, num país deprimente e maniqueísta, dividido, onde o mérito de pouco serve, a justiça é palavra vã, o oportunismo é tido como coisa normal e o trabalho é coisa para inglês ver, é um país onde assenta bem a greve de amanhã. Esta será a forma de luta adequada para afundar o país ainda um pouco mais e acirrar os ânimos uns contra os outros. Além disso é um direito legítimo dos trabalhadores. É disso mesmo que o país precisa para continuar a sua saga de país maniqueísta, pelintra, endividado e de mão estendida.
Como nota final, compreendo a revolta e a indignação de muita gente mas sou de opinião que esta greve assume a forma mais inútil e simplista de uma luta que não passa de uma reivindicação inóqua, já que o Estado está falido o país endividado até às orelhas. Parece-me que não é desta forma que sairemos do atoleiro mas sim com trabalho, racionalidade nos gastos, organização, rigor e cooperação entre todos os sectores da sociedade, sem maniqueímos.   

domingo, 13 de novembro de 2011

A CULTURA “DAS LUVAS” E A JUSTIÇA DOS PODEROSOS

Estive a elencar uma série de casos mais mediáticos que chegaram à barra dos tribunais portugueses relacionados com corrupção, fraude fiscal, participação em negócio, branqueamento de capitais, peculato.
Refiro por exemplo casos como o FREEPORT, PORTUCALE, BPN, APITO DOURADO, FACE OCULTA, FÁTIMA FELGUEIRAS, ISALTINO MORAIS, VALE E AZEVEDO, OPERAÇÃO FURACÃO para citar os que me lembro mais recentes, e verifico que em todos eles não existe um resultado satisfatório de aplicação da justiça. Independentemente de os seus protagonistas serem ou não culpados, o problema é que ou não se prova a culpa de quem cometeu esses crimes ou, se prova, para a grande maioria dos acusados, as consequências não se traduzem no cumprimento da mesma. Muitos processos ficam esquecidos nas calendas a”marinar” até prescrever ou tornam-se inconclusivos e são arquivados.
Um traço comum em todos eles: envolvem gente poderosa, com dinheiro e capacidade de exercer influência na alta esfera social e política. Outro traço comum: a Justiça parece ser muito benevolente com estes protagonistas, atitude nem de perto nem de longe, equivalente ao que ocorre com a “arraia miúda”, ou seja, quando o alegado criminoso é o “Manel das Iscas”.
A minha explicação para estes casos e para o aberrante funcionamento da justiça do seu julgamento é simples: é um problema cultural.
1º Os protagonistas envolvidos nestes casos e a gente dos tribunais emergem de uma sociedade que convive e pratica a corrupção como uma coisa normal.
Portugal é um “país da cunha” propenso a um tipo de corrupção de “favor” e do "mexer de cordelinhos", atitude enraizada socialmente ao longo do tempo, através da troca de favores, de “atenções”, de benefícios e facilidades. De qualquer modo, durante décadas esta era a via mais expedita perante “um aparelho de Estado lento e insensível aos problemas dos cidadãos, de difícil acesso e inibidor da iniciativa privada". Os pobres também “bajulavam” os mais ricos da sociedade por vezes na ânsia de que estes lhes proporcionassem uma simples promoção social ou que, de alguma forma lhes facultassem algum benefício na vida. O suborno é assim tido como normal.
Só esta tolerância explica, por exemplo, a recondução de Isaltino Morais para o cargo de presidente da Câmara pela população de Oeiras, depois de estar acusado e ter sido considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de poder. E ainda mais paradigmático é o facto de as leis portuguesas permitirem que uma pessoa nestas condições possa exercer um cargo público.
2º Os tribunais de alguma forma protegem quem tem dinheiro e poder, não se percebendo de forma clara a razão por que isto acontece, se a lei é igual para todos os cidadãos. Os arguidos que estão no lote dos influentes contratam os melhores advogados a peso de ouro. Estes sabem servir-se habilmente das leis para encetarem uma série de acções dilatórias que acabam por tornar o processo completamente inócuo. Os tribunais aparentemente são impotentes para combater esta tendência. Claro que pelo meio arranja-se sempre um bode expiatório, o elo mais fraco, que paga as favas dos outros a título de exemplo.
No caso Face Oculta por exemplo, estou plenamente convencida de quem vai pagar as favas é o Manuel Godinho, não obstante não ser propriamente “peixe miúdo” é, apesar de tudo, o elo mais fraco. Lembrou-se de oferecer prendas a gente influente para governar a sua vida. Já o Sr. Armando Vara desconfio que nada de especial lhe acontecerá. Mas vamos ver. E já agora: O que será feito de Dias Loureiro? Alguém sabe o resultado da badaladérrima Operação Furacão, relacionada com fraude fiscal? E o Vale e Azevedo, cadê?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NERVOS, PÂNICO E DESESPERO

Tudo se tem estado a precipitar com o caso grego e os acontecimentos da cena política e social sucedem-se em roda livre, já ninguém conseguindo antever cenários nem medir as consequências do que está para vir, seja lá ele o que for.
Se é verdade que, à primeira vista, Papandreau teve uma atitude desleal em relação aos seus parceiros europeus quando, num acto de dramatismo próprio de uma tragédia grega clássica, fez anunciar a realização de um referendum sobre a continuidade da moeda única no país, quando nada fazia prever uma hesitação política, face à aprovação ao perdão de 50% da dívida grega por parte dos dirigentes da zona euro, o certo que é que este golpe doméstico grego, para além de pôr em verdadeiro estado de sítio e à beira de ataque de nervos a Europa dos 27, lançou o pânico à escala mundial e colocou a crise grega e do euro no centro do debate da cimeira dos países do G20.
Tudo indica agora que muito provavelmente a atitude de primeiro-ministro grego não passou de dilatória, com o fito de neutralizar o principal partido da oposição e tentar ganhar fôlego político em condições conjunturais e de anti-popularidade extremamente adversas, com os gregos afogados nas medidas de austeridade e revoltados com a UE e com a Troika, a verdade é que o mundo tremeu como um pudim de gelatina prestes a desabar com esta ameaça grega.
Na realidade, os gregos têm direito de escolha mas o que não parece é que tenham alternativa, pois dependem dos dinheiros do FMI e do BCE como o pão para a boca, literalmente, e a saída do euro seria a banca-rota da Grécia e significaria o caos social e económico naquele país.
Porém, se a Grécia está refém da UE, o mundo está refém da Grécia. É que apesar de a Grécia representar apenas 2% do Produto Interno Bruto da economia europeia, o edifício financeiro da economia global é feito de barro e a Grécia é um tijolo que se for retirado pode fazer colapsar e desabar toda a estrutura, pois o efeito “dominó” resultante da rotura do euro por parte da Grécia propagar-se-ia a todo o mundo e seria imediato. Pelo menos é o que dizem os entendidos…
Este fenómeno de interdependência económica e financeira não deixa de ser curioso. Imaginem que um dia alguém algures num país decide dar o “grito do Ipiranga” e achar que este sistema não serve e já não responde às aspirações de um povo, e que esse alguém consegue mobilizar uma nação a remar contra a maré?
A verdade é que a revolta já começou e vive-se um clima de inquietação e desespero no mundo. Veja-se por exemplo os acontecimentos que estão a ocorrer nos E.U.A. em que Oakland está a ferro e fogo e os telejornais revelam imagens de desordem nas ruas que há muito não se viam neste país, com adeptos do designado “movimento Occupy Wall Street”, de reacção contra os mercados financeiros.
Remetendo-nos à história bíblica do “David e Golias”, o Golias que se cuide.   

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O SONHO EUROPEU OU O PERDÃO DA DÍVIDA (II)

O plano de assistência à Grécia e o respectivo receituário de medidas de austeridade já leva um ano e meio. Supostamente e previsivelmente já deviam estar a entrar no bom caminho, mas a realidade é bem diferente.

O último semanário Sol refere que “segundo os dados divulgados pelo Ministério das Finanças grego, o défice orçamental de 2011 deverá atingir os 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, longe dos 7,6% acordados com a ‘troika’. Para 2012, as previsões apontam para um défice de 6,8% do PIB, enquanto a meta era de 6,5%. A contracção da economia será maior do que o esperado e subirá 5,5% do PIB, em vez dos 3,8% previstos.”

Conclusão: nada destas medidas “troikistas” está a dar resultado. Todas as previsões têm saído frustradas. Entretanto a CE, o BCE e FMI aprovaram mais uma tranche de ajuda para não deixar cair a Grécia e estancar por agora o terrível efeito sistémico que se antevê se o cenário de colapso económico daquele país se concretizar. Porém, face à má execução do plano da “Troika”, e à tendência recessiva verificada e comprovada ao cabo deste ano e meio, a pergunta que se impõe é esta: Até quando se vai insistir neste receituário, que em vez de tratar o doente o vai aniquilando progressivamente, e está a pôr os povos à beira de um ataque de nervos social?

A única forma de salvar esta situação centra-se no perdão da dívida o que passa inevitavelmente pelo reconhecimento por parte dos “Srs. Mercados” que muito do dinheiro investido no tempo das vacas gordas é irrecuperável, isso mesmo.

À Comunidade Europeia caberia tomar as rédeas de um processo de recuperação económica centrada numa planificação de financiamento sustentável aos países membros em dificuldades, contemplando o perdão de uma parte da dívida, por um lado, e proceder a um programa de financiamento orientado para a recuperação económica capaz de criar riqueza em níveis que compatibilizem, de forma equilibrada, o crescimento económico e a amortização da dívida a longo prazo, partindo obviamente de novos padrões de funcionamento da actividade económica susceptíveis de garantir uma forte regulação dos mercados. Querer tudo ao mesmo tempo é que me parece a quadratura do círculo, pois já se percebeu que crescimento e austeridade severa para reduzir défices enormes no curto prazo, não são situações compatíveis e jogam em sentidos diametralmente opostos.    

Porém, enquanto os dirigentes políticos forem reféns dos mercados, não podemos ter outra expectativa que não seja uma penosa caminhada para o abismo onde nos iremos todos estatelar, num comboio em descarrilamento em que uns países arrastam os outros. Prémio de (des)consolação: não serão só os gregos ou os portugueses; ninguém vai ficar imune, suponho eu. Por isso, preparem-se que pode estar para vir o pior, se a orientação da crise dos países devedores continuar teimosamente neste rumo.

domingo, 2 de outubro de 2011

O SONHO EUROPEU OU O PERDÃO DA DÍVIDA (I)

O sonho europeu que aspira a um continente com uma moeda forte e próspera do ponto vista económico, com uma sociedade livre e solidária, alicerçada numa democracia alargada, com respeito pela soberania e diversidade dos povos, entrou em crise existencial, porque como diz o povo: “Casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Durante décadas, numa euforia colectiva, o sistema financeiro através das instituições bancárias, foi injectando dinheiro na economia sem cautelas, num exercício parecido ao jogo de roleta de casino: apostar muito para ganhar muito mais. Os países mais pobres, como Portugal, tiveram acesso a grandes quantias de dinheiro que lhes permitiram modernizar-se e retirá-los do atraso em relação aos seus parceiros mais ricos. Os países ricos da Europa tiveram a sua oportunidade produzir e vender mais em novos mercados ávidos de consumismo e agora com dinheiro abundante, sem restrições alfandegárias e sem obstáculos de políticas proteccionistas nacionais e regionais.
Dinheiro em abundância, crédito fácil, juros baratos formaram o “caldo de cultura” propício ao consumismo de “novo riquismo” colectivo e satisfizeram a ganância e a ambição de muitos durante tempo demais. Muito desse dinheiro e do lucro que produziu não serviu para reinvestir e criar mais riqueza, simplesmente desapareceu e é irrecuperável em toda a linha, sector privado e público incluídos. Uma boa parte desse dinheiro foi para carros, casas, viagens, jantares, objectos tecnologia de ponta, foi para a corrupção e favorecimentos, para estradas e obras públicas de fachada para angariar votos, muitas sem utilidade, e muitíssimas sem racionalidade. Resumindo, uma fatia substancial dos recursos consumidos transformou-se num monte de sucata ou, simplesmente, evaporou-se. Esse dinheiro, essa seiva, não se traduziu em lucro mas em desperdício.
É obvio que o deslumbramento provocado pelo dinheiro é algo de que todo o ser humano padece, mas há um momento em que chega a factura e o credor bate à porta. Chato! A vida podia ser tão boa!   
Mas a realidade é esta: o crescimento e a ambição não podem ser ilimitados, simplesmente porque o próprio mercado não absorve o ritmo desenfreado e o planeta Terra não aguenta este galope delapidador.   
Sem deprimir, olhemos para as nossas vidas cheias de futilidades, a forma como encharcamos os nossos filhos com tudo o que não tivemos e o que compramos sem ser preciso. Pensamos que vivemos melhor, mas somos mais felizes? O que é excessivo não implica mais felicidade, apenas pode representar um prazer efémero, normalmente esgotável a muito curto prazo.
Durante muito tempo foi-se construindo progresso sobre um retorno futuro, repetiu-se a fórmula e repetiu-se novamente. Mas, porque o futuro é errático o processo redundou num colapso porque o futuro retorno foi ficando cada vez mais longínquo. A certa altura o dinheiro já não chegava para pagar as contas do presente quanto mais as do futuro e o problema avolumou-se de tal maneira originando o “crash”. E cá estamos nós em plena CRISE.
Chegados aqui, a crise transformou-nos em “pobres” a viver entre a espada e a parede e está a levar os “ricos” à loucura.  Porque os ricos que emprestam o dinheiro para este carrossel ainda não assumiram que a dívida é impagável. Por isso os “mercados” andam “tão nervosos” e até já há ricos que querem pagar mais impostos. Não será a intenção tão boa como parece, até porque não resolveria o problema, senão resultará antes da necessidade de tentar acalmar a populaça, não vá esta agitar-se em demasia com as injustiças sociais.
Assim, a resposta tem sido obrigar os governos a impor recessão aos povos. Como não está a funcionar soma-se mais recessão à recessão. Assim chegamos à Grécia, a Portugal, a Espanha, a Itália e sabe-se lá onde isto poderá ir parar. Preparemo-nos pois se a Europa não acordar a tempo a solução não vai passar por aqui. O sonho europeu afinal está a esfumar-se com a ambição de um ”jogador” ávido, que não quer perder nem a feijões.    

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O ORGULHO PORTUGUÊS

O orgulho português tem tanto de legítimo e vernáculo uma vezes, como de pacóvio outras vezes.
Orgulho devemos senti-lo porque somos um país com História, fomos capazes de feitos notáveis e temos uma identidade única que nos torna especiais. Sem dúvida.
Por outro lado, temos tiques do mais atrasado provincianismo. Ora temos a mania das grandezas ora enfermamos da maledicência mais autodestrutiva que existe. Sofremos de uma bipolaridade congénita, uma espécie de amor / ódio por nós próprios.
Isto passa-se porque os portugueses não estão “resolvidos” e são pouco afirmativos. Falta-nos convicção, massa crítica, o mesmo é dizer, somos frouxos o que nos leva a permanecer sempre em crise (de nervos).
1-       A Crise do Euro: A afirmação, bastas vezes repetida, por governantes, economistas e analistas políticos, de que Portugal não é a Grécia, procurando levar-nos a acreditar piamente que se formos uns meninos bem comportados, receberemos um prémio de bom comportamento, não nos salva da hecatombe se a Grécia tiver que sair do Euro. Nem a Alemanha se salva, quanto mais Portugalinho. Se a Grécia falir vai ser o Lehmon Brothers à escala global e o indício disso é que Barak Obama já se começou a interessar pelo assunto. Ai não!
2-       A crise do estádio de Leiria: Vejamos: um estádio que custou 83,2 milhões de euros, 277 por cento a mais do que o que estava previsto, os empréstimos do estádio custaram o ano passado 1,8 milhões de euros em juros, podendo atingir 2,5 milhões de euros no próximo ano, está à venda por 60 milhões, foi penhorado por causa de dívidas às finanças no valor de 4 milhões e que não serve para o clube de futebol local jogar. Loucura! E a multiplicar por 10!

3-       A crise na Justiça (continuação): Veio hoje nos jornais a notícia da absolvição em 1ª instância de Oliveira e Costa e de Dias Loureiro. Sim senhor! Mais uma vez ninguém teve culpas nas burlas e buracos financeiros perpetrados no BPN e que todos estamos a pagar com um palmo de língua de fora. Bom, se os responsáveis não têm culpa dos crimes cometidos, então o que se passou no BPN foi obra e graça do divino espírito santo que, vá-se lá saber por que razão, deve andar irado connosco, para nos ter aplicado este castigo.

4-       A crise da Madeira: O Dr. Alberto João Jardim é um caso típico de “chico-espertismo” português. Como é malcriado e arrogante e gosta de pôr o dedo em riste, pensa que toda a gente tem medo dele. E não é que tem mesmo!? Todos os governantes se borram de medo que AJJ lhes chame nomes feios e, por isso, têm-lhe dado tudo o que ele quer, só para o calarem. De dedo em riste só conheço tiranetes e estes normalmente não têm um bom fim. Uma coisa é certa, a partir do momento em que a dívida da Madeira nos atinge a todos, este não é um problema só dos madeirenses que elegem AJJ e o mantêm no poder há mais de três décadas. O homem tem que ser travado e é por nós, que não podemos consentir que os governantes de Lisboa lhe continuem a aparar os devaneios. O Presidente do Governo Regional da Madeira envergonha-nos e pior do que isso, põe-nos em risco, para além de nos ir ao bolso. “Vá para o diabo que o carregue”, para utilizar uma linguagem á altura da dele. Espera-se que o primeiro-ministro e o presidente da república se demarquem desta figura caricata e lhe ponham um travão. Tanto me dá que os madeirenses o elejam novamente, mas já agora gostaria de propor, (como lesada tenho esse direito), uma lei que limite o número de mandatos para este cargo dos governos regionais, pois parece que é a única situação em que não existe um limite de mandatos, e como se sabe, AJJ tem todos os madeirenses a irem comer-lhe à mão. Mas já chegámos à Madeira?

domingo, 11 de setembro de 2011

9/11

Foi há 10 anos. Eu tinha ido a casa almoçar, numa pausa do trabalho, eram pouco mais do que 13 horas. Como estava sozinha levei o tabuleiro com o almoço para a frente da televisão para ouvir o noticiário. Comecei logo por ouvir a notícia de um acidente com um avião em Nova York que acabava de embater numa das torres do World Trade Center. Pensei: “Caramba, isto é grave, como foi possível acontecer uma coisa destas?” Mal tive tempo de ter este pensamento quando vejo, em directo e em tempo real, um avião aproximar-se e atirar-se contra a segunda torre. O meu tabuleiro quase voou do colo. Fiquei boquiaberta e pensei: “Não pode ser, não pode ser! Mas que raio se está a passar aqui?” Telefonei de imediato ao meu marido. “Está a acontecer uma coisa inacreditável”, disse-lhe eu. Era de facto difícil de acreditar, parecia demasiado cinematográfico, uma cena impensável para ser real. Posso dizer que esta foi uma das coisas que mais me impressionou em toda a minha vida e vê-la em directo, como se estivesse lá, foi muito avassalador.
Não podia, pois, deixar de assinalar este facto tão marcante. Levei dias e dias a digerir aquela ocorrência, ao ritmo das notícias que explodiram em catapulta. Ainda hoje me espanto com aquelas imagens, como se de cada vez as visse por primeira vez.
Ninguém podia ter planeado uma acção daquelas com tamanhos requintes de malvadez. Foi de uma Inteligência perversa e de um ódio que não encontra paralelo. Começou aqui a carnificina, mais de 3.000 pessoas completamente inocentes pereceram, de muitas nem se encontraram os restos mortais. O Ground Zero tornou-se num imenso cemitério dos horrores. Juntaram-se-lhe o ataque ao Pentágono e o voo nº 93 da United Airlines que se despenhou na Pensilvânia. Mas isto foi apenas o começo do sacrifício.
Depois disso, diz-se, o mundo mudou. A pretexto, o Afganistão foi invadido 26 dias depois, seguiu-se o Iraque, a máquina de guerra entrou em movimento, o ódio e a vingança cresceram e espalharam-se. O mundo tornou-se mais inseguro. Houve réplicas dos atentados, em Madrid, no Paquistão…
Sadam Hussein foi exterminado, Osama Bin Laden, capturado e morto, mas a Al Qaeda não morreu. Inventou-se Guantanamo. Milhares de vidas entre culpados e inocentes já deram tributo com o seu sangue a esta guerra histérica. Voltou a ameaça da bomba atómica e da terceira guerra mundial. O ódio entre o mundo islâmico e o ocidente agudizou-se. Israel e a Palestina continuam o mesmo caldeirão escaldante prestes a derramar-se. O Irão e os países árabes do Médio Oriente prosseguem no seu braço de ferro e ameaçam constantemente os Estados Unidos da América e o mundo ocidental. A estrutura económica mundial colapsou, e os países emergentes ameaçam engolir o gigante dos EUA. Os países do norte de África derrubam os seus líderes déspotas mas ficam à mercê de grupos extremistas, quem sabe o que acontecerá quando a fúria anda à solta?
Neste cantinho à beira mal plantado temos sido espectadores boquiabertos e olhando para toda esta turbulência os nossos grandes problemas ficam quase irrelevantes. A pergunta que se nos coloca acaba por ser esta: Que sentido faz isto tudo? Não faz. Mas a guerra contra o terrorismo nunca mais acabará. Uma coisa alimenta a outra reciprocamente. Vem-me à cabeça a pergunta clássica e sem resposta: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Apesar de a pergunta não ter resposta não podemos ignorar. Numa singular homenagem aos que pereceram sem culpa nenhuma: http://www.youtube.com/watch?v=WhYmGnpn1RU
Pode acontecer com um de nós. Que a providência nos proteja e a toda a Humanidade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O OCASO DA VIDA

É frequente ouvirmos notícias do abandono e das condições de precariedade em que vivem as pessoas de maior idade. Ser velho em Portugal não é animador.
Os resultados do último censos ainda não foram publicados, como tal considerando os dados divulgados neste âmbito, no período entre 1960 e 2001, segundo a PORDATA, o número de pessoas com mais de 75 anos praticamente triplicou nestas quatro décadas, (passou de 238.121 para 701.366 indivíduos, no intervalo considerado) enquanto o número de indivíduos na faixa etária entre os 0-4anos decresceu cerca de 40%  (passou de  901.410 para 539.491, no mesmo intervalo de tempo).
A população portuguesa está de facto a envelhecer e os idosos representam uma fatia cada vez maior da nossa população.
Uma pessoa de idade pode tornar-se vulnerável, carece de maior carinho e de todo o apoio da sociedade em que se insere e que ajudou a construir. A resposta deve estar nas famílias, porém muitas delas desprezam os seus velhos e relegam-nos para segundo plano, ou simplesmente ignoram-nos, por vezes recorrendo ao álibi de não terem condições para dar o apoio necessário. Se isso pode ser verdade, em casos de doença grave, ou devido a dificuldades económicas efectivas, a verdade é que quando uma pessoa já não pode ganhar o seu sustento, torna-se indesejável e é considerada muitas vezes um fardo, fazendo com que não se invista nela o suficiente para ter uma vida condigna. Tal ocorre quer por parte das famílias quer por parte das instituições que os acolhem. Por vezes (demasiadas) chega-se mesmo a casos mais extremos de humilhação e de maus tratos. Por seu turno, as instituições nem sempre respondem às necessidades não só logísticas mas, e sobretudo, às necessidades que tornam um ser humano minimamente feliz e não proporcionam aos seus utentes algo que lhes dê ainda entusiasmo pela vida.
Os lares de idosos, as mais das vezes, não passam de depósitos de gente que já viveu e que já não vive, porque nesses locais estão enterrados em vida. Já visitei alguns e não gosto do modelo. Gente lúcida vagueia pelos corredores ou permanece sentada, emparedada, à espera que o tempo passe devagar, num vazio de interesse. Os doentes permanecem no seu leito de morte, aguardando a sua hora.
Sem um carinho, sem um abraço e sem actividade, um ser humano já morreu, mesmo que respire e tenha as necessidades básicas asseguradas. Eles, os nossos velhos, precisam de ter alguém que ouça as suas histórias, que passeie com eles ao fim-de-semana e, se estão em condições físicas e mentais para isso, necessitam de se sentir úteis e de participar na construção da vida familiar ou da sua comunidade.
Quando as famílias, por alguma razão não acolhem os mais velhos, as instituições são a resposta. Porém, a resposta não está neste modelo de lares que conhecemos. O modelo tem que ser outro.
Os locais de acolhimento deverão ter vida própria e serem concebidos para fomentar elos sociais e  actividades que contribuem para a sua construção, a par das boas condições de habitabilidade.
Por isso, em vez dos tradicionais lares onde se emparedam pessoas, tristemente à espera que o tempo passe, defendo a criação de equipamentos com amplos espaços verdes, onde as pessoas, a maioria com raízes rurais, possam fazer as suas pequenas hortas, jardinagem e outras actividades de ar livre, e com espaços equipados onde possam exercer um ofício, dentro daquilo que sabem ou gostam de fazer.
Em tempos tive oportunidade de participar num projecto social designado “Aldeia da Solidariedade”, em Albufeira. Não estou a falar de uma daqueles condomínios de luxo “geriátricos”. Não. Esta aldeia era para o Manuel e para a Maria. Nesta aldeia os casais viveriam em pequenas moradias e trabalhariam nos seus ofícios ou em actividades úteis à comunidade. Haveria oficinas equipadas onde cada um poderia desenvolver a sua arte ou ofício. Haveria espaços exteriores com pequenas hortas para serem cultivadas e espaços verdes de lazer. Um conjunto de lojinhas comercializariam os objectos produzidos nas oficinas e os produtos hortícolas que não fossem consumidos na cantina, além de outros produtos de primeira necessidade. Paralelamente, seriam construídas uma creche e uma escola primária promovendo a proximidade e o relacionamento entre avós e netos, objectivando reforçar os elos familiares. Os doentes e acamados teriam uma unidade própria e todos os utentes receberiam acompanhamento médico e terapêutico. Haveria ainda a área social: o cafezinho com esplanada e o restaurante, a barbearia, o cabeleireiro, a queijaria, a padaria…
Gostei da aldeia no papel, nas não sei que é feito dela. Se sempre houve dinheiro para fazer tanta porcaria que não serve para nada, porque não poderá haver para esta causa de dar dignidade às pessoas que estão na fase mais adiantada da vida?  
O ocaso da vida deve ser como o Pôr-do-Sol: suave, tranquilo e belo. Um dia vai tocar-nos a nós. Investir nesta causa será investir em nós próprios. Se pensarem assim, passarão a valorizar mais os nossos anciãos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

IR AO FUNDO E NÃO VOLTAR

O Sr. Presidente da República, cada vez que abre a boca diz coisas que, ou não têm nexo ou ninguém entende. A última passou-se nas festas de Campo Maior quando os jornalistas o interpelaram sobre a nova ideia da moda de instituir a cobrança de um imposto extra para tributar as grandes fortunas.
Num país exaurido pelos impostos que nos apertam o garrote, e no meio de um ambiente festivo que supostamente serve de escape para as pessoas desanuviarem do ambiente pesado da austeridade que lhes carregam, o Sr. Presidente conseguiu fazer o pleno da insensatez ao aventar a ideia de mais um imposto, desta feita para repor o extinto imposto sucessório:
1º Estragou a festa e foi “desmancha-prazeres”;
2º Assustou ainda mais o povinho que já vive em pânico para conseguir pagar as contas;
3º Revelou uma preocupante dislexia de pensamento porque disse uma coisa e o seu oposto, isto é, ao mesmo tempo que referiu que os portugueses estão próximos do limite para pagar impostos, sugeriu mais um;
4º Foi mau conselheiro relativamente a um governo que tende a ir a reboque das tendências dos ecos peregrinos que pairam no ar vindos de fora e que às vezes parece não ter opinião própria sobre o que fazer de forma estruturada cá dentro.
5º Foi no mínimo deselegante e é lamentável que tenha aflorado uma coisa tão grave numa interpelação de rua, tipo assalto de paparazzi; Será mais uma das acções da sua “magistratura de influência” numa versão descontraída de época balnear?
6º Teve uma atitude errada e provocatória porque propõe para outros aquilo que já não o afectará a ele, a menos que queira propor a medida com retroactivos.
Ao que se sabe, o Sr. Presidente e a sua mulher já receberam as heranças de família que tinham que receber, economias de famílias honradas e trabalhadoras que o Sr. Presidente, segundo as suas próprias declarações, foi aplicar no BPN, em condições de favor à sua pessoa. Nada contra, não fora o BPN aquilo que se sabe e que estamos todos a pagar.
Por outro lado, sempre ouvi o Sr. Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, dizer que os políticos não devem ceder às pressões da Comunicação Social e ao imediatismo dos directos, que as instituições democráticas devem exercer uma política reflectida e em estreita cooperação na procura de soluções consensuais e amadurecidas. Enfim um garante da serenidade e da ponderação. Bem, mas como aderiu ao Facebook, deve ter-se deslumbrado com esta explosão da comunicação em tempo real. Tudo bem, mas cada coisa no seu lugar.
Pois eu acho que alguns senhores da política perderam o norte, e já não têm noção do que dizem, ou propõem, nem da forma como o fazem.
O que eu sei é que há gente neste país que se esfolou uma vida inteira a trabalhar para ter alguma coisita para deixar aos seus descendentes e proporcionar-lhes uma vida um pouco melhor, quantas vezes passando privações eles próprios. Se até isso lhe querem levar na hora da morte, tudo bem, e já agora comecem a cobrar também IMI pela sepultura ou inventem outra coisa qualquer para os mortos poderem continuar a pagar impostos e a contribuir para o buraco negro dos cofres do estado. Juntem lá mais este para engrossar a quantidade pornográfica de impostos e contribuições que nos obrigam a pagar para nos enterrarem.
E eu, já agora, sou capaz de abrir uma agência funerária, que o negócio da arquitectura anda muito por baixo e não dá que chegue para pagar impostos. Vendo bem, o Sr. Presidente acabou de me dar uma ideia para evitar ir ao fundo e não voltar.

domingo, 21 de agosto de 2011

FADO

Desenganem-se os que ainda têm uma réstia de esperança de que Portugal será algum dia um país próspero. Seremos sempre pelintras, leia-se “o povo”, porque os que têm o pezinho nos grandes grupos económicos pôr-se-ão sempre a salvo dos “assaltos” fiscais e das vulnerabilidades do sistema de funcionamento do nosso país. Ao mesmo tempo continuarão a sacar favores dos governantes. Ou seja, aproveitam o que é bom e rejeitam o que não presta. O que é bom é o favorecimento em operações a troco de benesses e contrapartidas que lhes permitem lucrar e distribuir dividendos pelos respectivos accionistas, o que não presta que é pagar os impostos e prestações equivalentes aos lucros pela tabela fiscal a que os demais cidadãos estão obrigados é, para os que podem jogar no xadrez da alta finança, contornável com a maior das facilidades.
Hoje saiu no jornal “Público” uma notícia sobre a fuga de capitais dos grandes grupos económicos portugueses para o estrangeiro e para paraísos fiscais, em vários pontos do Globo. Empresas como a PT, GALP, EDP, MOTA-ENGIL, SONAE, Jerónimo Martins, CIMPOR, entre outras, e todos os grupos financeiros do sector bancário conhecidos, BCP, BES, BPI, BANIF, para citar os de maior relevo, possuem sedes em países onde se pagam baixos impostos ou não se pagam de todo. A escolha recai em países como por exemplo a Holanda, Luxemburgo e Irlanda, que oferecem condições fiscais muito favoráveis, estabilidade e rapidez na justiça, menos burocracia, entre outras vantagens, comparativamente a Portugal. Os bancos inclinam-se fortemente para paraísos fiscais como as Ilhas Caimão, Bahamas, Madeira (Funchal), e Liechetenstein, onde o anonimato dos depositantes de envergadura está salvaguardado. Tudo legal. Mas altamente imoral.
No início deste ano, quando estava iminente o pedido de ajuda de Portugal ao FMI e se avizinhava o quadro de austeridade que está agora a ser posto em prática, Ricardo Salgado veio advertir, o mesmo é dizer ameaçar, que o agravamento das condições fiscais e a penalização das mais-valias levaria à fuga de capitais para fora do país. Mas nem os paliativos do governo para deixar de fora do agravamento de impostos os depósitos e as mais-valias das acções, resolve o problema desta sangria. Significa isto que as empresas que continuam a ter lucros fabulosos o arrecadam nos seus cofres ou nos bolsos dos seus accionistas, colocando esse dinheiro em lugares seguros e livre de impostos. Significa isto que a riqueza especulativa é imune às dificuldades que o país atravessa, que os sacrifícios irão recair sempre pelos que não têm acesso a estes expedientes, que o dinheiro gerado não é reinvestido na sociedade nem vai ajudar a tapar o défice. O dinheiro, o nosso dinheiro, escapa-se. Sim, porque essas empresas vivem do que nós todos lhes compramos e do que o estado (ou seja nós mais uma vez) lhes paga em obras públicas e serviços diversos. Significa que o sistema fiscal precisa de ser reinventado no sentido de uma maior justiça na distribuição do esforço que é pedido aos portugueses.
Porém, receio que será sempre este o nosso fado. Pagar e voltar a pagar. Dizem que somos um país de gente triste, de FADO. Como é isso possível com um clima e uma situação geográfica tão favoráveis, com as belas paisagens que possuímos, com um povo afável e tudo o que torna este país paradisíaco em muitos aspectos, porque vivemos tristes então?
Talvez seja porque o nosso trabalho nunca é recompensado e por mais que nos esforcemos e trabalhemos bem não progredimos na vida se vivermos do trabalho. Empobrecer trabalhando é das coisas mais tristes e desmotivantes que existem. Porquê? Porque andamos sempre a pagar as crises e a tapar o buraco que outros vão destapando.
Se já tivemos impérios e nem nessas alturas o povo vivia bem! Em nove séculos nunca vivemos com desafogo e em prosperidade, e de futuro seremos sempre um país pobre e triste, à excepção de uns quantos que vivem debaixo do chapéu do sistema. Mentalizem-se disso e se puderem fujam de cá. Como fazem os que vocês já sabem quem são.
Uma nota de aparte sobre a Madeira e o Sr. Alberto João Jardim com as suas declarações recentes sobre a falta de liquidez da Madeira. Falta de liquidez, também eu! Meu amigo é a crise! Diz ele que, mesmo sabendo das dificuldades que o país atravessava, optou por aumentar a dívida durante o governo do PS para agora poder renegociá-la com o governo da sua cor política. Quer mais claro! Bem, já todos lhe conhecemos o “non sense” e os excessos, mas desconfio que o homem agora está a ficar demente. Deve ser da idade! Aquela mania de esbanjar euros até ao absurdo é doença e esta precisa de ser tratada. Pensará que somos todos ricos ou que temos obrigação de lhe sustentar os devaneios? Já não há pachorra para o Sr. AJJ sempre com o dedo em riste. Eu, se fosse madeirense, sentiria claustrofobia. Nunca mais aparece sangue novo.

domingo, 14 de agosto de 2011

PORQUE É QUE O NOSSO PAÍS É TÃO BADALHOCO?


Lembro-me que as primeiras vezes que saí do país, ainda muito jovem, e fui para países do centro da Europa, a primeira sensação que tinha quando regressava a Portugal é que havia muito lixo por todo lado, muita coisa partida, em mau estado e muita degradação. Claro que esta imagem me sobressaía em resultado de um contraste entre o que eu tinha visto nos outros países e o que via quando chegava ao nosso, pondo em evidência aos meus olhos o aspecto desleixado de muitas cidades, vilas e paisagens. Havia realmente diferenças. Lá via-se tudo limpo, organizado e cuidado e aqui tudo parecia muito mais votado ao abandono e ao desleixo. Era frequente ver lixo à beira da estrada, por exemplo, lixeiras a céu aberto, casas velhas a cair e muitas construções degradadas, equipamentos partidos, sujos e conspurcados, ruas sem pavimento e poeirentas, por aí fora.
As coisas melhoram consideravelmente de então para cá, ao nível do país, no que se refere à limpeza e à conservação dos bens e do espaço público. No entanto, continuamos a ser um país que não resolveu o seu problema de falta de zelo e isso sempre me choca, porque sou sensível a isso e gosto de tudo limpo e organizado, como na minha terra de origem.

Retomando o tema, vou falar-vos um pouco mais sobre a minha terra, Portel, para perceberem a que me refiro no aspecto da limpeza.
A minha terra sempre foi limpa. Sabem porquê? Porque se caiavam as casas por dentro e por fora e fazia-se uma limpeza geral profunda em casas e equipamentos todas as Primaveras. É mesmo uma tradição. As mulheres lavavam constantemente a “soleira” da porta de casa e frequentemente essa limpeza estendia-se até ao meio da rua. Cada vizinha varria e esfregava em toda a frente da sua casa até meio da rua. No outro lado da rua a mesma coisa, garantindo assim a limpeza total da mesma. Muitas vezes fazia-se o “pezinho” ou a “barrinha” da casa, significa isto retocar a caiação ou a pintura na zona exterior mais rente ao chão que era a que se sujava mais por causa da poeira e dos salpicos da chuva. Assim as casas mantinham-se impecavelmente cuidadas e as ruas limpas todo o ano.
Actualmente as coisas não mudaram muito por lá neste aspecto. No que se reporta à gestão de resíduos, a Câmara procede à recolha de lixo diária porta à porta. Por isso nunca há lixo nas ruas. Existe uma boa coordenação entre a Câmara Municipal e a população. Tudo funciona de forma organizada quanto a este aspecto. Meia-hora antes da recolha em cada casa põe-se o saquinho de lixo à porta bem acondicionadinho, e a seguir, “ala que estrala”, lá vem o carro do lixo e recolhe tudo. Não há cá contentores a extravasar lixo nem nódoas no pavimento. Nada! Tirando Portel só vi este sistema em Londres e em Frakfurt (sítios que visitei e onde reparei nisto). Lá faz-se a recolha com tudo separadinho por categoria de resíduos. Em Frankfurt as casas possuem locais próprios exteriores para meter estes mini-contentores domésticos. Pois é. Para quem ache que isto não é possível de fazer nas grandes cidades, aí têm. Em Lisboa isto também se faz em algumas zonas mais antigas da cidade. Já perceberam que não sou apologista dos sistemas de recolha tipo “ecopontos”. Normalmente são locais de acumulação de lixo, cheiram mal e são inestéticos apesar da evolução de design dos contentores e do recurso ao sistema enterrado.
Dir-me-ão: Mas isso é impossível de implementar cá, porque as pessoas não estão habituadas e isso não funciona, os portugueses não têm esse civismo e nem todos são alentejanos. Realmente é verdade que os portugueses ainda deixam muito a desejar em matéria de civismo, ainda é frequente ver atirar lixo para o chão deixar os cães fazer cocó nos passeios e coisas que tais. Pois bem, eu digo: habituam-se. Reparem que no Alentejo os homens também são em geral uns badalhocos. A limpeza deve-se sobretudo às mulheres. São elas que têm essa cultura do asseio, aliás como a da gestão (tema para outro artigo). Elas limpam, limpam, limpam. Mas elas conseguem. Se elas conseguem e se houver uma aprendizagem a começar nos bancos da escola, o resto da população também chega lá. Às Câmaras Municipais compete também incutir hábitos de civismo e de limpeza na população e dar exemplos de boa conduta, claro.
A propósito, uma nota também positiva para a praia de Faro. Nunca tinha visto a praia de Faro tão limpa como este ano. Parabéns à Câmara Municipal de Faro quanto a este aspecto positivo. Limpeza dá gosto.
Agora falemos dos equipamentos. Vou dar um exemplo concreto: A eco-via do Algarve. Investiram-se milhares de euros na construção da eco-via (bem), gastou-se um balúrdio em sinalização específica (quanto a mim perfeitamente desnecessária). Parte dela está num estado miserável e os sinais estão a ficar todos partidos. Há dias um amigo que gosta de circular por aí de bicicleta queixava-se disso mesmo no Facebook. Desabafava ele, e com razão, que os utilizadores não merecem este tratamento e desconsideração. Só para ilustrar, apresento uma fotografia no fim deste texto, mostrando o estado em que se encontra um dos suportes de sinalética (caríssimo e que não serve para nada) desta eco-via.
Senhores Presidentes de Câmara e senhores “decisores de feitura de obras públicas”, não andem a gastar dinheiro mal gasto em coisas que acabam destruídas e não têm utilidade prática. Conservem o que constroem, para não ser mais um dinheiro deitado à rua. Valia mais utilizarem o dinheiro que gastaram na sinalética inútil da eco-via do Algarve e o aplicassem a conservar o bom estado da mesma que apenas requer limpeza, podas, conservação de pavimentos e pouco mais. Não se gastam recursos em piroseiras de novo-riquismo e depois nunca mais se olha por aquilo. Nada mais errado. Já Aristótoles dizia: “O belo é o esplendor da ordem”. Por isso, sejam criteriosos nas vossas escolhas e zelosos na manutenção do nosso espaço público. Não façam obras de fachada, sem viabilidade e que mais tarde não podem manter (lembro-me logo também dos estádios). Todos vos agradecerão se forem melhores gestores e mais zelosos. Esperamos com isso e com o civismo de todos vir a ter um país menos badalhoco e mais civilizado. Como deve ser.



domingo, 7 de agosto de 2011

OS ESCÂNDALOS DA LUSITÂNIA

Foi em Novembro de 2008 que o escândalo do BPN rebentou, entrando como um petardo nos anais deste país.
O governo socialista da altura decidiu nacionalizar o banco com o argumento de que assim se evitariam males maiores, prevenindo o risco de contágio sistémico à restante banca nacional e por forma a segurar os depósitos dos clientes.
Surpreendentemente, Teixeira dos Santos, anterior ministro das finanças, veio dizer publicamente em Fevereiro de 2009 que “o estado não gastou nem envolveu dinheiro dos contribuintes” referindo-se à intervenção do estado no BPN. Terei ouvido bem? A ser assim a venda recente do BPN ao BIC teria dado 40 milhões de lucro! Os tais 40 milhões da treta.
Ora já foi assumido pelo actual executivo que o BPN já custou ao Estado - leia-se contribuintes - dois milhões de euros, resultado de imparidades da instituição, plasmadas no lixo tóxico perigoso de créditos mal parados que o estado assumiu para “limpar” o banco.
O negócio com o BIC rendeu os ridículos 40 milhões, pagos em prestações, mas em cima disso o Estado vai ter de pôr mais 550 milhões como garantia para que o BPN cumpra os ratios de liquidez que o Banco de Portugal exige para que o banco possa funcionar. De seguida vai pagar as indemnizações de 750 trabalhadores despedidos e vai pagar-lhes o sustento com o fundo de desemprego (quanto?)
O actual governo avança com a expectativa de recuperação do dinheiro injectado no BPN através da venda de activos imobiliários do banco e recuperação de crédito mal parado. Ouvi bem? Vocês ainda acreditam no Pai Natal?
Agora a cereja no topo do bolo: um dos anteriores administradores da Sociedade Lusa de Negócios que detinha o BPN foi nomeado para administrador da Caixa Geral de Depósitos, a mesma que tem gerido e supervisionado o BPN e através da qual o estado está a injectar dinheiro para não deixar cair o banco de todas as desgraças. A CGD, a banca nacional portuguesa, com um administrador de um banco falido e de má reputação (não vou referir outras nomeações pouco transparentes)? Ouvi bem? Alguém me belisque para saber que não estou a sonhar!
De certeza de que não estou a sonhar quando afirmo o que se sabe: que o BPN era uma sociedade de gangsters da alta finança, uma rede de tráfico de dinheiro, influências e favorecimentos, através de offshores e sociedades ocultas que desviaram o dinheiro da economia do país para os bolsos de uns quantos sem nenhuma contrapartida. Uma trama de negócios ruinosos em que acções rendiam 240 % no curto espaço de dois anos! Curioso! Eu investi na bolsa há três anos 4 mil euros das minhas poupanças do trabalho e já perdi mais de metade do capital! É certo que eu não percebo nada de bolsa mas há gente com sorte, caramba! O BPN faliu por causa de negócios ruinosos com os quais gente graúda ligada às altas esferas da política e do mundo da alta finança, (todos amigos e conhecidos), ganhou muito dinheiro. No entanto apenas um de maior relevo foi preso e está acusado de crimes: Oliveira e Costa. O que não significa que seja condenado já que a lei protege os poderosos.
Para não entrar em mais polémica, não obstante o desconforto sentido, termino questionando-me mais uma vez: Porquê o BIC? Porquê os 40 milhões? Porquê o favorecimento de Isabel dos Santos e de Américo Amorim, que já tinha interesses no BPN?

Independentemente das orientações da Troika para o Estado se desenvencilhar do problema, não teria saído mais barato liquidar o banco, vendendo os activos e pagando as indemnizações? São os 40 milhões que fazem a diferença? É que feitas as contas o BPN irá ficar muito mais caro aos contribuintes e mais uma vez alguém vai lucrar com isso, com o dinheiro de todos nós. Alguém que já é muito rico. É caso para pensar.

domingo, 31 de julho de 2011

VIVER É DESCOBRIR


O melhor do que podemos experienciar é o misterioso.
Quem não o vive e já não se maravilha, não se fascina,
está de certa forma morto e tem o olhar apagado.”
Albert Einstein

Tenho andado a ler sobre esta figura única que é Albert Einstein.
E muito para além do cientista e da mente brilhante vejo um homem de uma curiosidade imensa e fascinado pelos mistérios que a vida e a natureza ligada àquela, encerram. Basta olhar para a sua figura descontraída e o seu olhar brilhante e extraordinariamente vivo para perceber que era apaixonado pela descoberta da vida.
Isso deu-me o mote para reflectir exactamente sobre o significado da mesma, sobre os valores e sobre aquilo que nos preenche enquanto seres humanos nesta passagem a que eu chamo de aventura.
Viver é uma aventura, perigosa mas deslumbrante, e tal como numa relação de amizade ou de um qualquer outro afecto é preciso manter a chama acesa, sob pena de nos tornarmos um vegetal ou, pior do que isso, uma coisa sem alma, visto eu achar que as plantas têm uma alma vibrante.
Todos já sabem como me interesso pela política e por todos os assuntos que têm reflexos na nossa sociedade e na forma como nos relacionamos.
Porém, quando sou confrontada com os tablóides dos jornais e dos media em geral, por vezes deparo-me com assuntos absolutamente inócuos, fúteis e desprovidos de qualquer interesse. Outros, por força da repetição, levam-nos ao cansaço e à necessidade, puramente auto-reguladora da nossa sanidade mental e intelectual, de desligar.
Saber das tricas, das fofocas e dos dramas dos famosos é absolutamente irrelevante para quem não tem uma relação de proximidade com os verdadeiros dramas dessas pessoas, que os têm certamente. Fazer desses dramas espectáculo é puro voyerismo de coxia.
Ver esmiuçados até à exaustão os potenciais ou efectivos escândalos dos bastidores da política, só para fazer notícia e encher páginas de jornais e tempos de antena, põe-me doente. Passada a fase da indignação natural, entedia-me completamente.
Ouvir sobre os joguinhos da baixa política na luta de conquista pelos lugares ou observar os verdadeiros malabarismos a que muitos se dedicam para preservação dos mesmos, vulgo “jobs for the boys and girls”, pode ser interessante na medida em que põe a nu o despautério dos “carreiristas do tacho”. Tais análises ajudam a desmascarar essas figuras de fachada, cuja pedantice revela apenas uns quaisquer “Dorian Grey” inchados na sua própria imagem, revestida de fina camada de verniz. Porém é extremamente aborrecido e decepcionante, tendo em conta o que isso revela do oportunismo, da falta de seriedade e decoro vigentes no xadrez da política e nos meandros das redes de interesses instalados.
Ser bombardeado a toda a hora e por todos os meios com publicidade e assédio ao consumo de uma miríade de coisas das quais não precisamos para ser felizes, como se tudo fosse de primeira necessidade, coisas absolutamente fúteis que apenas escravizam a pobre gente levando-a a afogar-se em dívidas para alimentar os negócios do consumismo, em nome da prosperidade e de um crescimento económico que nada nos traz de prosperidade, quanto mais de felicidade, é irritante, para não dizer revoltante, na medida em que nos reduz a meras peças de engrenagem e a escravos iludidos por uma economia gananciosa e sem escrúpulos.
Ouvir falar da Troika e dos planos de austeridade, das promessas de campanhas eleitorais não cumpridas, de verdades absolutas que logo se tornam mentiras e ouvir declarações categóricas de duvidosa credibilidade e em que já ninguém faz fé, massacra e desencoraja.
Saber dos actos terroristas que grassam até nos países mais pacíficos do mundo e das atitudes tresloucadas que ceifam vidas ao desbarato, não faz qualquer sentido e aterroriza-nos.
Há que dar uma trégua neste carrossel alucinante de loucura e sem travões que é o mundo em que vivemos, quer se tratem de acontecimentos num horizonte de maior proximidade ou de cenários aparentemente mais longínquos.
Muitos de nós já passaram por situações limite na vida, momentos particularmente difíceis ou suficientemente tocantes no mais fundo de nós que nos levam a repensar tudo o que nos move e a ponderar até que ponto vale ou não a pena esgatanhar-nos tanto na vida. Nestes momentos somos levados a reposicionar os valores que verdadeiramente nos movem.
Um ente querido que perdemos ou estivemos em riscos de perder, uma amizade verdadeira ou sentimento que desperta em nós, um momento de realização, um acidente que nos muda a vida, um desafio que nos põe verdadeiramente à prova, um exemplo de alguém que nos faz olhar no mais recôndito de nós, uma vida que salvámos ou ajudámos a salvar, alguém que nos traz à tona e nos faz regressar lá das profundezas da obscuridade. Momentos de verdade!
Por outro lado, a vida está cheia de coisas tão simples quanto extraordinárias das quais tantas vezes não nos apercebemos e de repente descobrimos como são mágicas e positivas.

Nesta conjectura, hoje não me apetece comentar nada da política ou dos tablóides, não venho barafustar porque há corrupção, porque há interesses instalados, porque o sistema não funciona, porque há injustiça social, porque o trabalho está escasso e há desemprego, porque o mundo está de pernas para o ar… Aliás, sempre assim será e sempre teremos de combater e lutar por um mundo melhor, isto é, pela nossa própria felicidade, algo inatingível como uma assíntota, mas para onde se caminha sempre.
De outro modo, quando por qualquer razão mais ou menos consciente posso fascinar-me com mais um dia que nasce e quando um amigo que esteve em risco de vida hoje me diz com um sorriso novo, ele próprio fruto dessa descoberta e fascinação: “...Voltei a Nascer…”, quando isso passa a ser um motivo de consagração e eu sinto uma felicidade enorme por causa disso, tudo o resto me parece irrelevante.
Caros amigos, tenham um bom Domingo e não andem com a cabeça entre as orelhas. Sejam curiosos, não se acomodem e descubram todos os mistérios que puderem e… fascinem-se. Vai-se notar um brilhozinho nos vossos olhos e darão “um outro melhor BOM DIA”. Ficarão mais sorridentes, muito mais preparados para enfrentar as adversidades de mais uma semana que vai começar e muito mais apetrechados para prosseguir nesta luta quotidiana enquanto por cá andarmos nesta aventura.
Simples mas genial!


domingo, 24 de julho de 2011

NÃO HÁ IMPOSSÍVEIS…

A notícia que mais me impressionou esta semana centra-se num acontecimento fascinante pela positiva e foi exactamente a do corredor amputado das duas pernas que competiu e foi apurado para os mundiais de atletismo numa corrida de muitas pernas e todas inteiras.
Observando de todos os ângulos, a ocorrênca impressionou-me por completo. Trata-se de um exemplo de força, de coragem e de abnegação ímpar contra o que parecia, aos olhos de todos, impossível, irremediável e inexpectável.
IMPOSSÌVEL porque um homem sem pernas por definição não corre como se as tivesse.
IRREMEDIÁVEL porque seria um dado adquirido que nada poderia alterar o que o destino, de forma cruel, ditara a este homem.
INEXPECTÁVEL porque ninguém imaginaria que alguém sem pernas ambicionasse correr como uma gazela, com uma elegância rara e a bater-se com os mais capazes do mundo.
A atitude deste homem sul-africano, de nome Oscar Pistorius foi apenas esta: bateu-se contra a própria limitação física, demonstrando que a podia superar, bateu-se contra a condição que lhe atribuiam de inapto  e venceu o preconceito dos que o queriam impedir de competir por ser diferente (o seu nome tinha sido barrado pela Federação Internacional de Atletismo para entrar em provas de alta competição) e, ainda por cima, conseguiu apesar de tudo, ser tão bom ou melhor que os melhores e ficar apurado para os Jogos Olímpicos de Pequim, ao mais alto nível, portanto.
Bateu-se, bateu-se, bateu-se e superou-se. Superou-nos a todos, e leva-nos a recolocar a razão de não nos empenharmos o suficiente e desistimos de algo que muito almejamos. Venceu em toda a linha e deu-nos a todos uma lição de perseverança enternecedora.
Tenho-o pois como um exemplo e como a prova viva de que não há impossíveis, desde que a vontade de vencer e de não resignar se mantenha acesa, sendo esta vontade uma força poderosíssima do ser humano. Fiquei deslumbrada.
Na vida, umas vezes ganha-se outras perde-se, mas o sabor da conquista pelos nossos próprios meios e perseverança tem um paladar único e intensamente gratificante, como tal merece sempre a pena lutar por aquilo em que acreditamos.
Quem disse que uma pessoa sozinha não pode mover montanhas?

Alessandro Bianchi/Reuters

Pistorius numa prova de 400 metros em Roma, com atletas não amputados: segundo lugar