domingo, 21 de agosto de 2011

FADO

Desenganem-se os que ainda têm uma réstia de esperança de que Portugal será algum dia um país próspero. Seremos sempre pelintras, leia-se “o povo”, porque os que têm o pezinho nos grandes grupos económicos pôr-se-ão sempre a salvo dos “assaltos” fiscais e das vulnerabilidades do sistema de funcionamento do nosso país. Ao mesmo tempo continuarão a sacar favores dos governantes. Ou seja, aproveitam o que é bom e rejeitam o que não presta. O que é bom é o favorecimento em operações a troco de benesses e contrapartidas que lhes permitem lucrar e distribuir dividendos pelos respectivos accionistas, o que não presta que é pagar os impostos e prestações equivalentes aos lucros pela tabela fiscal a que os demais cidadãos estão obrigados é, para os que podem jogar no xadrez da alta finança, contornável com a maior das facilidades.
Hoje saiu no jornal “Público” uma notícia sobre a fuga de capitais dos grandes grupos económicos portugueses para o estrangeiro e para paraísos fiscais, em vários pontos do Globo. Empresas como a PT, GALP, EDP, MOTA-ENGIL, SONAE, Jerónimo Martins, CIMPOR, entre outras, e todos os grupos financeiros do sector bancário conhecidos, BCP, BES, BPI, BANIF, para citar os de maior relevo, possuem sedes em países onde se pagam baixos impostos ou não se pagam de todo. A escolha recai em países como por exemplo a Holanda, Luxemburgo e Irlanda, que oferecem condições fiscais muito favoráveis, estabilidade e rapidez na justiça, menos burocracia, entre outras vantagens, comparativamente a Portugal. Os bancos inclinam-se fortemente para paraísos fiscais como as Ilhas Caimão, Bahamas, Madeira (Funchal), e Liechetenstein, onde o anonimato dos depositantes de envergadura está salvaguardado. Tudo legal. Mas altamente imoral.
No início deste ano, quando estava iminente o pedido de ajuda de Portugal ao FMI e se avizinhava o quadro de austeridade que está agora a ser posto em prática, Ricardo Salgado veio advertir, o mesmo é dizer ameaçar, que o agravamento das condições fiscais e a penalização das mais-valias levaria à fuga de capitais para fora do país. Mas nem os paliativos do governo para deixar de fora do agravamento de impostos os depósitos e as mais-valias das acções, resolve o problema desta sangria. Significa isto que as empresas que continuam a ter lucros fabulosos o arrecadam nos seus cofres ou nos bolsos dos seus accionistas, colocando esse dinheiro em lugares seguros e livre de impostos. Significa isto que a riqueza especulativa é imune às dificuldades que o país atravessa, que os sacrifícios irão recair sempre pelos que não têm acesso a estes expedientes, que o dinheiro gerado não é reinvestido na sociedade nem vai ajudar a tapar o défice. O dinheiro, o nosso dinheiro, escapa-se. Sim, porque essas empresas vivem do que nós todos lhes compramos e do que o estado (ou seja nós mais uma vez) lhes paga em obras públicas e serviços diversos. Significa que o sistema fiscal precisa de ser reinventado no sentido de uma maior justiça na distribuição do esforço que é pedido aos portugueses.
Porém, receio que será sempre este o nosso fado. Pagar e voltar a pagar. Dizem que somos um país de gente triste, de FADO. Como é isso possível com um clima e uma situação geográfica tão favoráveis, com as belas paisagens que possuímos, com um povo afável e tudo o que torna este país paradisíaco em muitos aspectos, porque vivemos tristes então?
Talvez seja porque o nosso trabalho nunca é recompensado e por mais que nos esforcemos e trabalhemos bem não progredimos na vida se vivermos do trabalho. Empobrecer trabalhando é das coisas mais tristes e desmotivantes que existem. Porquê? Porque andamos sempre a pagar as crises e a tapar o buraco que outros vão destapando.
Se já tivemos impérios e nem nessas alturas o povo vivia bem! Em nove séculos nunca vivemos com desafogo e em prosperidade, e de futuro seremos sempre um país pobre e triste, à excepção de uns quantos que vivem debaixo do chapéu do sistema. Mentalizem-se disso e se puderem fujam de cá. Como fazem os que vocês já sabem quem são.
Uma nota de aparte sobre a Madeira e o Sr. Alberto João Jardim com as suas declarações recentes sobre a falta de liquidez da Madeira. Falta de liquidez, também eu! Meu amigo é a crise! Diz ele que, mesmo sabendo das dificuldades que o país atravessava, optou por aumentar a dívida durante o governo do PS para agora poder renegociá-la com o governo da sua cor política. Quer mais claro! Bem, já todos lhe conhecemos o “non sense” e os excessos, mas desconfio que o homem agora está a ficar demente. Deve ser da idade! Aquela mania de esbanjar euros até ao absurdo é doença e esta precisa de ser tratada. Pensará que somos todos ricos ou que temos obrigação de lhe sustentar os devaneios? Já não há pachorra para o Sr. AJJ sempre com o dedo em riste. Eu, se fosse madeirense, sentiria claustrofobia. Nunca mais aparece sangue novo.

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