domingo, 16 de setembro de 2012

O POVO UNIDO


Já aqui escrevi que discordava das novas medidas de austeridade. Na verdade, o benefício da descida da TSU para as empresas seria desejável, não fora esta medida contrariada com a medida oposta, que agrava em termos gerais a TSU, retirando mais dinheiro às famílias, oprimindo o consumo, logo, as vendas de bens e serviços das empresas que trabalham sobretudo para o mercado nacional, as quais representam 99% do tecido empresarial português. Muitas destas são empresas familiares ou individuais e são, na realidade, o posto de trabalho e o ganha-pão de quem as dirige. É pois falacioso que a medida venha contrariar o aumento do desemprego. Virá sim, mais uma vez, subtrair dinheiro à economia, empurrando-nos para uma recessão cada vez mais cavada. Insistir nesta fórmula começa a ser falta de lucidez, visto que não nos coloca na rota da recuperação económica nem na do cumprimento das condições do resgate financeiro, encarando a segunda meta como variável direta da primeira.  

Em condições tão adversas de cortes e mais cortes, já quase ninguém neste país ganha para pagar impostos, o Estado passou a comer connosco à mesa, quando não se trata mesmo de tirar o pão da boca de quem já não tem para se sustentar. Não se trata de dramatização. Infelizmente é a realidade.

Os portugueses já não aguentam, não acreditam na bondade dos sacrifícios e já não têm esperança. Perderam a confiança num governo e num primeiro-ministro, cujo discurso hoje não tem nem um vislumbre do que afirmou, na fase em que se apresentou ao eleitorado como o salvador da Pátria.

Num ato de protesto e de genuína indignação, os portugueses saíram à rua numa manifestação verdadeiramente espontânea e ordeira, em que pequenos episódios residuais de alguma tensão mais truculenta não ensombram a forma digna como as pessoas se manifestaram, entoaram palavras de ordem e choraram as suas aflições mais profundas e veladas. Esta é a voz do povo, dos cidadãos, das pessoas, que não são números, nem cifrões, nem meros contribuintes e têm uma palavra a dizer sobre o seu próprio destino. É esta a via mais espontânea que o povo tem para fazer ouvir a sua voz e fá-lo legitimamente contra a prepotência de que está a ser alvo, e do pacote de medidas que lhe despejam em cima, sem direito ao contraditório.

Os governos têm legitimidade para governar, mas não têm legitimidade para enganar as pessoas. Os portugueses disponibilizaram-se a pagar uma dívida pública que em boa medida não ajudaram a criar, mas ainda assim dispostos a salvar a pátria do descalabro da bancarrota e a sua própria reputação como nação. (Quem mais?) O que os portugueses exigiram a PPC e ao governo quando o elegeram foi rigor nas contas, competência na resolução de um problema bicudo, imaginação para encontrar as soluções eficazes no controlo do défice e da dívida, minimizando os impactos sociais que, já se sabia, ainda assim iriam ser penosos. Missão difícil, sem dúvida, mas quem se apresentou como alternativa de governação já sabia ao que vinha. Teriam que estar preparados. Porém, ao cabo de mais de um ano de governação, as contas estavam erradas e nunca são transparentes, os cálculos projetados saíram gorados e não existe uma estratégia que vise a recuperação económica do país. O que temos são uma sucessão imprevisível e em roda livre de medidas avulsas, fazendo lembrar o sufoco que foram os sucessivos PEC’s do anterior governo PS, na fase final que antecedeu a queda do governo Socrático.

Face aos resultados insatisfatórios, os portugueses questionam-se legitimamente e, cada vez com mais convicção, sabem que o rumo que o governo está a tomar não nos vai levar a bom porto.

Os portugueses, em união de todos os quadrantes políticos, classes e setores de atividade, deram ontem um sinal claro que não aceitam mais medidas de austeridade, não só porque já não podem pagar mais, mas sobretudo por que não acreditam nelas para nos tirar de maus lençóis. E esta é uma nota inequívoca de que, aos olhos dos portugueses, o governo está descredibilizado, revela-se incapaz de conter o défice e navega à vista. Em política há sempre alternativas e o caminho não tinha que ser este. Assim o governo e Pedro Passos Coelho tenham disponibilidade mental para colocar outras soluções em cima da mesa e para as negociar com a Troika, sem a obstinação de querer ser o bom aluno, quando isso se resume a mera engenharia financeira de merceeiro e ao empobrecimento e colapso económico do país. O que PPC tem que perceber é que os interesses que ele deve defender em primeira instância são os da gente, porque a gente é o país e não merece este castigo que lhe infligiram.

domingo, 9 de setembro de 2012

VIVER UM DIA DE CADA VEZ


O primeiro-ministro veio animar o nosso fim-de-semana com o anúncio de novas medidas de austeridade.

Sob o pretenso pretexto de dar mais condições de competitividade e promover o emprego por parte das empresas, o governo reduz a taxa social única em 5,75 pontos percentuais. Em contrapartida aumenta em 7 pontos percentuais a prestação social dos trabalhadores. O balanço, claro, é favorável para o lado do Estado que arrecada mais 1,25% por trabalhador e por mês em prestações sociais, o equivalente a 36% do salário, a suportar equitativamente pelo trabalhador e pela empresa. Esta foi a medida encontrada para sonegar mais dinheiro aos portugueses para remendar o eterno buraco do défice e disfarçar a derrapagem orçamental, em alternativa ao corte dos subsídios, medida declarada inconstitucional.

Na prática a nova medida significa mais dinheiro retirado à economia real e é um falso paliativo para as pequenas e médias empresas que representam, note-se 99,6% do nosso tecido empresarial. Significa mais uma vez a redução de salários e, consequente, a diminuição do poder de compra de bens e serviços, logo, as empresas que dependem do mercado interno serão afetadas negativamente.

De uma forma ou de outra a aritmética mais uma vez subtrai aos mesmos, trabalhadores e pequenas e médias empresas, e soma aos gigantes que detêm monopólios de bens essenciais. Favorece as empresas mais sofisticadas e os acionistas tubarões que agora dominam as nossas empresas estratégicas. Contribui para reforçar a “chinização” e “angolinização” do nosso país e os interesses inerentes. Mais do mesmo, portanto.

Esta política não presta na medida em que sobrecarrega mais uma vez a já exaurida classe média, e não promove nenhuma mudança estrutural conducente à recuperação económica, bem pelo contrário.  E não tinha que ser assim.

O Governo comporta-se como tendo um casamento de conveniência com a população portuguesa, mas baba-se perante a sua amante de luxo: a Troika. Esta é uma coelhinha tonta da Playboy e está mais ralada com a defesa dos mercados e em manter o sistema financeiro a funcionar sem empecilhos do que com os desgraçados dos portugas. A população serve para pagar os custos da brincadeira com o seu trabalho e manter a casa limpa e sem mácula. E quem sai fodido somos nós todos.

Ora a mim, como a muita gente, pouco me importa desde quando remonta o regabofe financeiro que nos colocou nesta alhada. Sei é que esta terapia de choque não é solução e nos vai enterrando cada vez mais fundo. E sei que este governo está a fazer tudo ao contrário do que apregoou, não está a ser hábil a negociar as condições do resgate, não está a ser contundente nas reformas que podem inverter o rumo dos acontecimentos e prefere a via mais simples e fácil de angariar receita sonegando-a aos rendimentos do trabalho, ou não fôssemos o elo mais fraco. Mas talvez se enganem neste ponto.

Por isso, o conselho que dou a todos é:

- Vivam um dia de cada vez aproveitando tanto quanto uma vida despojada vos possa proporcionar;

- Metam os cornos tanto quanto puderem a quem vos trai todos os dias despudoradamente e não tem coragem de defender o seu povo;

- E comecem já a tratar do divórcio.