quinta-feira, 7 de junho de 2012

O BEIJO DO CARRASCO

Têm siglas tão enigmáticas como assustadoras, normalmente com duas ou três letras e são a nossa maior dor de cabeça por estes dias:
IVA, IRS, IRC, IMI, IMT, ISV, IUC, PEC; ISP, IS, IT….

Para além destes pomposos impostos, existe toda uma panóplia de taxas e contribuições com que nos brindam nos mais diversos ramos e sectores tendo em vista arrepelarem-nos o couro cabeludo e chuparem-nos até ao tutano: ele é taxas moderadoras, taxas de apreciação de processos, taxas de licenciamento, taxas de junção de documentos, taxas de utilização, taxas de publicidade, taxas para ocupação da via pública, de estacionamento, contribuição audiovisual e por aí fora, só para citar as que me lembro, enfim, um pinga-pinga que não tem fim.

Feitas as contas de todos os impostos, taxas e contribuições, cada português consome cerca de 70% do seu rendimento em tributações, ou seja, está a trabalhar para o Estado. E ainda que por definição o Estado sejamos todos nós, a verdade é que o Estado é uma máquina trituradora de recursos, onde a má gestão dos dinheiros públicos e a corrupção paulatinamente se traduzem no desperdício e no desvio dos dinheiros do seu fim último e exclusivo, em prol do benefício da coisa pública, para outros destinos ilegítimos e muito pouco recomendáveis. O algodão não engana e basta passá-lo ao de leve pelos recantos da mansarda portuguesa, que ele fica logo negro de porcaria.   

Esmifrados pela máquina fiscal já estamos todos anémicos e a economia, que é o nosso ganha-pão, também por tabela. É que para salvar o Estado da falência, estamos todos a ir à falência, ou seja o país afunda. Logo, por associação, os salários dos que trabalham e os rendimentos das empresas vêm minguando, minguando que até mete dó. Tá visto que uma desgraça nunca vem só e então lá vêm também os cortes brutais nos apoios sociais na saúde, na educação, na cultura…

Um Estado falido é uma coisa constrangedora porque come à mesa de todos nós em regime de diária completa, cama, mesa e roupa lavada. Para o efeito usa umas coisas chamadas leis, feitas à medida, e quem não cumpre é criminoso, portanto é comer e calar, pois sempre é preferível ser pobre do que perder a honra com atos de fora-da-lei.

Sujeitos ao saque do nosso pezinho-de-meia para colmatar o buraco financeiro, pagar os juros que daí advém, garantir a manutenção de uma máquina administrativa obesa e despesista e das empresas que vivem sob o chapéu protetor do Estado, devemos até ficar agradados por sermos chamados a ser os salvadores da Pátria e da paz instituída, pois é uma honra ser patriota! Ah! Esquecia-me que ainda nos convocam para branquear as burlas das teias financeiras privadas e assim dão-nos mais uma oportunidade de ser altruístas e magnânimos na nossa generosa atitude de alegres pagadores.

No centro das nossas atenções estão agora o carinho e aconchego que dedicamos às parcerias público-privadas e às empresas públicas, esses paradigmas da lógica empresarial onde se gasta à tripa-forra e produz-se “zero”. E claro, a cereja no topo do bolo, uma coisa que dá pelo nome de BPN que é assim uma espécie de reduto de “irmãos metralha” de cartola e de safados, porque sempre se safam das malandragens que vão urdindo.

Que nos peçam sacrifícios quando não têm mais onde recorrer parece inevitável, mas quando esses sacrifícios nos põem a pão e água enquanto alguns comem caviar, quando a ameaça é a destruição de toda a capacidade produtiva do país e a ruína a curto prazo da classe média, o assunto torna-se preocupante. E quando a toda esta situação se acrescenta a impunidade de responsáveis, governantes deste país ou outros da esfera privada, que não são chamados às barras dos tribunais e à praça pública para responderem por atos que conduziram o país à situação de ruína em que se encontra, que os tribunais sejam impotentes para julgar crimes económicos demonstrados em tese e à vista de todos, então aí a extorsão fiscal passa a ter contornos de imoralidade.
É a escravatura moderna! “Obrigam-nos a pagar e chamam-nos contribuintes”. (A frase não é de minha autoria, achei-a no facebook e pespeguei-a aqui.)