terça-feira, 20 de setembro de 2011

O ORGULHO PORTUGUÊS

O orgulho português tem tanto de legítimo e vernáculo uma vezes, como de pacóvio outras vezes.
Orgulho devemos senti-lo porque somos um país com História, fomos capazes de feitos notáveis e temos uma identidade única que nos torna especiais. Sem dúvida.
Por outro lado, temos tiques do mais atrasado provincianismo. Ora temos a mania das grandezas ora enfermamos da maledicência mais autodestrutiva que existe. Sofremos de uma bipolaridade congénita, uma espécie de amor / ódio por nós próprios.
Isto passa-se porque os portugueses não estão “resolvidos” e são pouco afirmativos. Falta-nos convicção, massa crítica, o mesmo é dizer, somos frouxos o que nos leva a permanecer sempre em crise (de nervos).
1-       A Crise do Euro: A afirmação, bastas vezes repetida, por governantes, economistas e analistas políticos, de que Portugal não é a Grécia, procurando levar-nos a acreditar piamente que se formos uns meninos bem comportados, receberemos um prémio de bom comportamento, não nos salva da hecatombe se a Grécia tiver que sair do Euro. Nem a Alemanha se salva, quanto mais Portugalinho. Se a Grécia falir vai ser o Lehmon Brothers à escala global e o indício disso é que Barak Obama já se começou a interessar pelo assunto. Ai não!
2-       A crise do estádio de Leiria: Vejamos: um estádio que custou 83,2 milhões de euros, 277 por cento a mais do que o que estava previsto, os empréstimos do estádio custaram o ano passado 1,8 milhões de euros em juros, podendo atingir 2,5 milhões de euros no próximo ano, está à venda por 60 milhões, foi penhorado por causa de dívidas às finanças no valor de 4 milhões e que não serve para o clube de futebol local jogar. Loucura! E a multiplicar por 10!

3-       A crise na Justiça (continuação): Veio hoje nos jornais a notícia da absolvição em 1ª instância de Oliveira e Costa e de Dias Loureiro. Sim senhor! Mais uma vez ninguém teve culpas nas burlas e buracos financeiros perpetrados no BPN e que todos estamos a pagar com um palmo de língua de fora. Bom, se os responsáveis não têm culpa dos crimes cometidos, então o que se passou no BPN foi obra e graça do divino espírito santo que, vá-se lá saber por que razão, deve andar irado connosco, para nos ter aplicado este castigo.

4-       A crise da Madeira: O Dr. Alberto João Jardim é um caso típico de “chico-espertismo” português. Como é malcriado e arrogante e gosta de pôr o dedo em riste, pensa que toda a gente tem medo dele. E não é que tem mesmo!? Todos os governantes se borram de medo que AJJ lhes chame nomes feios e, por isso, têm-lhe dado tudo o que ele quer, só para o calarem. De dedo em riste só conheço tiranetes e estes normalmente não têm um bom fim. Uma coisa é certa, a partir do momento em que a dívida da Madeira nos atinge a todos, este não é um problema só dos madeirenses que elegem AJJ e o mantêm no poder há mais de três décadas. O homem tem que ser travado e é por nós, que não podemos consentir que os governantes de Lisboa lhe continuem a aparar os devaneios. O Presidente do Governo Regional da Madeira envergonha-nos e pior do que isso, põe-nos em risco, para além de nos ir ao bolso. “Vá para o diabo que o carregue”, para utilizar uma linguagem á altura da dele. Espera-se que o primeiro-ministro e o presidente da república se demarquem desta figura caricata e lhe ponham um travão. Tanto me dá que os madeirenses o elejam novamente, mas já agora gostaria de propor, (como lesada tenho esse direito), uma lei que limite o número de mandatos para este cargo dos governos regionais, pois parece que é a única situação em que não existe um limite de mandatos, e como se sabe, AJJ tem todos os madeirenses a irem comer-lhe à mão. Mas já chegámos à Madeira?

domingo, 11 de setembro de 2011

9/11

Foi há 10 anos. Eu tinha ido a casa almoçar, numa pausa do trabalho, eram pouco mais do que 13 horas. Como estava sozinha levei o tabuleiro com o almoço para a frente da televisão para ouvir o noticiário. Comecei logo por ouvir a notícia de um acidente com um avião em Nova York que acabava de embater numa das torres do World Trade Center. Pensei: “Caramba, isto é grave, como foi possível acontecer uma coisa destas?” Mal tive tempo de ter este pensamento quando vejo, em directo e em tempo real, um avião aproximar-se e atirar-se contra a segunda torre. O meu tabuleiro quase voou do colo. Fiquei boquiaberta e pensei: “Não pode ser, não pode ser! Mas que raio se está a passar aqui?” Telefonei de imediato ao meu marido. “Está a acontecer uma coisa inacreditável”, disse-lhe eu. Era de facto difícil de acreditar, parecia demasiado cinematográfico, uma cena impensável para ser real. Posso dizer que esta foi uma das coisas que mais me impressionou em toda a minha vida e vê-la em directo, como se estivesse lá, foi muito avassalador.
Não podia, pois, deixar de assinalar este facto tão marcante. Levei dias e dias a digerir aquela ocorrência, ao ritmo das notícias que explodiram em catapulta. Ainda hoje me espanto com aquelas imagens, como se de cada vez as visse por primeira vez.
Ninguém podia ter planeado uma acção daquelas com tamanhos requintes de malvadez. Foi de uma Inteligência perversa e de um ódio que não encontra paralelo. Começou aqui a carnificina, mais de 3.000 pessoas completamente inocentes pereceram, de muitas nem se encontraram os restos mortais. O Ground Zero tornou-se num imenso cemitério dos horrores. Juntaram-se-lhe o ataque ao Pentágono e o voo nº 93 da United Airlines que se despenhou na Pensilvânia. Mas isto foi apenas o começo do sacrifício.
Depois disso, diz-se, o mundo mudou. A pretexto, o Afganistão foi invadido 26 dias depois, seguiu-se o Iraque, a máquina de guerra entrou em movimento, o ódio e a vingança cresceram e espalharam-se. O mundo tornou-se mais inseguro. Houve réplicas dos atentados, em Madrid, no Paquistão…
Sadam Hussein foi exterminado, Osama Bin Laden, capturado e morto, mas a Al Qaeda não morreu. Inventou-se Guantanamo. Milhares de vidas entre culpados e inocentes já deram tributo com o seu sangue a esta guerra histérica. Voltou a ameaça da bomba atómica e da terceira guerra mundial. O ódio entre o mundo islâmico e o ocidente agudizou-se. Israel e a Palestina continuam o mesmo caldeirão escaldante prestes a derramar-se. O Irão e os países árabes do Médio Oriente prosseguem no seu braço de ferro e ameaçam constantemente os Estados Unidos da América e o mundo ocidental. A estrutura económica mundial colapsou, e os países emergentes ameaçam engolir o gigante dos EUA. Os países do norte de África derrubam os seus líderes déspotas mas ficam à mercê de grupos extremistas, quem sabe o que acontecerá quando a fúria anda à solta?
Neste cantinho à beira mal plantado temos sido espectadores boquiabertos e olhando para toda esta turbulência os nossos grandes problemas ficam quase irrelevantes. A pergunta que se nos coloca acaba por ser esta: Que sentido faz isto tudo? Não faz. Mas a guerra contra o terrorismo nunca mais acabará. Uma coisa alimenta a outra reciprocamente. Vem-me à cabeça a pergunta clássica e sem resposta: “Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Apesar de a pergunta não ter resposta não podemos ignorar. Numa singular homenagem aos que pereceram sem culpa nenhuma: http://www.youtube.com/watch?v=WhYmGnpn1RU
Pode acontecer com um de nós. Que a providência nos proteja e a toda a Humanidade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O OCASO DA VIDA

É frequente ouvirmos notícias do abandono e das condições de precariedade em que vivem as pessoas de maior idade. Ser velho em Portugal não é animador.
Os resultados do último censos ainda não foram publicados, como tal considerando os dados divulgados neste âmbito, no período entre 1960 e 2001, segundo a PORDATA, o número de pessoas com mais de 75 anos praticamente triplicou nestas quatro décadas, (passou de 238.121 para 701.366 indivíduos, no intervalo considerado) enquanto o número de indivíduos na faixa etária entre os 0-4anos decresceu cerca de 40%  (passou de  901.410 para 539.491, no mesmo intervalo de tempo).
A população portuguesa está de facto a envelhecer e os idosos representam uma fatia cada vez maior da nossa população.
Uma pessoa de idade pode tornar-se vulnerável, carece de maior carinho e de todo o apoio da sociedade em que se insere e que ajudou a construir. A resposta deve estar nas famílias, porém muitas delas desprezam os seus velhos e relegam-nos para segundo plano, ou simplesmente ignoram-nos, por vezes recorrendo ao álibi de não terem condições para dar o apoio necessário. Se isso pode ser verdade, em casos de doença grave, ou devido a dificuldades económicas efectivas, a verdade é que quando uma pessoa já não pode ganhar o seu sustento, torna-se indesejável e é considerada muitas vezes um fardo, fazendo com que não se invista nela o suficiente para ter uma vida condigna. Tal ocorre quer por parte das famílias quer por parte das instituições que os acolhem. Por vezes (demasiadas) chega-se mesmo a casos mais extremos de humilhação e de maus tratos. Por seu turno, as instituições nem sempre respondem às necessidades não só logísticas mas, e sobretudo, às necessidades que tornam um ser humano minimamente feliz e não proporcionam aos seus utentes algo que lhes dê ainda entusiasmo pela vida.
Os lares de idosos, as mais das vezes, não passam de depósitos de gente que já viveu e que já não vive, porque nesses locais estão enterrados em vida. Já visitei alguns e não gosto do modelo. Gente lúcida vagueia pelos corredores ou permanece sentada, emparedada, à espera que o tempo passe devagar, num vazio de interesse. Os doentes permanecem no seu leito de morte, aguardando a sua hora.
Sem um carinho, sem um abraço e sem actividade, um ser humano já morreu, mesmo que respire e tenha as necessidades básicas asseguradas. Eles, os nossos velhos, precisam de ter alguém que ouça as suas histórias, que passeie com eles ao fim-de-semana e, se estão em condições físicas e mentais para isso, necessitam de se sentir úteis e de participar na construção da vida familiar ou da sua comunidade.
Quando as famílias, por alguma razão não acolhem os mais velhos, as instituições são a resposta. Porém, a resposta não está neste modelo de lares que conhecemos. O modelo tem que ser outro.
Os locais de acolhimento deverão ter vida própria e serem concebidos para fomentar elos sociais e  actividades que contribuem para a sua construção, a par das boas condições de habitabilidade.
Por isso, em vez dos tradicionais lares onde se emparedam pessoas, tristemente à espera que o tempo passe, defendo a criação de equipamentos com amplos espaços verdes, onde as pessoas, a maioria com raízes rurais, possam fazer as suas pequenas hortas, jardinagem e outras actividades de ar livre, e com espaços equipados onde possam exercer um ofício, dentro daquilo que sabem ou gostam de fazer.
Em tempos tive oportunidade de participar num projecto social designado “Aldeia da Solidariedade”, em Albufeira. Não estou a falar de uma daqueles condomínios de luxo “geriátricos”. Não. Esta aldeia era para o Manuel e para a Maria. Nesta aldeia os casais viveriam em pequenas moradias e trabalhariam nos seus ofícios ou em actividades úteis à comunidade. Haveria oficinas equipadas onde cada um poderia desenvolver a sua arte ou ofício. Haveria espaços exteriores com pequenas hortas para serem cultivadas e espaços verdes de lazer. Um conjunto de lojinhas comercializariam os objectos produzidos nas oficinas e os produtos hortícolas que não fossem consumidos na cantina, além de outros produtos de primeira necessidade. Paralelamente, seriam construídas uma creche e uma escola primária promovendo a proximidade e o relacionamento entre avós e netos, objectivando reforçar os elos familiares. Os doentes e acamados teriam uma unidade própria e todos os utentes receberiam acompanhamento médico e terapêutico. Haveria ainda a área social: o cafezinho com esplanada e o restaurante, a barbearia, o cabeleireiro, a queijaria, a padaria…
Gostei da aldeia no papel, nas não sei que é feito dela. Se sempre houve dinheiro para fazer tanta porcaria que não serve para nada, porque não poderá haver para esta causa de dar dignidade às pessoas que estão na fase mais adiantada da vida?  
O ocaso da vida deve ser como o Pôr-do-Sol: suave, tranquilo e belo. Um dia vai tocar-nos a nós. Investir nesta causa será investir em nós próprios. Se pensarem assim, passarão a valorizar mais os nossos anciãos.