segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO

Segundo a predição Maia, povo sábio e respeitável civilização, o mundo acabar-se-á no final deste ano, mais exatamente no dia 21 de Dezembro (faltam 4 dias).
Pois para quem está à espera de um qualquer cataclismo natural que nos dizime a todos ou faça o mundo implodir, não sei se por intervenção de divina graça ou por causa de um simples e fortuito erro de cálculo daqueles nossos antepassados ancestrais, para nossa felicidade, os mensageiros da desgraça vão ter uma enorme deceção, coitados!
No entanto numa ótica menos fatalista, à qual não sou dada, e porventura mais esotérica, consta que a data marca o início da Nova Era e que o planeta Terra e os seus habitantes racionais podem sofrer uma transformação espiritual positiva.
Pois se não levarmos a interpretação à letra, penso que a predição não estava de todo errada e até acho muito assertiva.
O que me parece vislumbrar do que vejo e assisto é que o mundo tal como o conhecíamos até aqui, acabou ou está em processo de extinção embora não consiga nem ter uma remota ideia do que virá a seguir, se é que virá alguma coisa nova, pois não devemos excluir a hipótese de voltar tudo sempre ao mesmo sistema arcaico, uma vez que o bicho homem é um bocado duro de aprendizagem quando isso mexe com a sua situação instalada e forma egoísta de ser.
E desculpem-me esta abordagem megalómana dos eventos, a qual não tenho capacidade de abarcar no seu todo. Assim, na modéstia da minha pequenez cá neste mundo, cinjo-me aqui ao que alcança a minha escala de vida temporal e experiência adquirida por força de cá andar, circunscrita ao meu campo de observação mais direto, ou seja este pequenininho retângulo plantado à beira mar, o nosso universo se assim se pode dizer.
Assim, tanto quanto me é dado observar, este microcosmos à nossa volta está efetivamente a desabar em muitos dos direitos, liberdades e garantias conquistados com o 25 de Abril, batalha que todos julgávamos estar ganha e os seus louros adquiridos, numa sociedade, apesar de tudo, de abundância e bem-estar a que nos fomos habituando, pensando ser uma coisa sólida. Por força das políticas antigas seguidas durante anos e novas políticas agora aplicadas como terapia de recurso,
·         Destroem-se os setores produtivos e investe-se em consumo e obras de fachada para ganhar votos e sustentar poder;
·         O setor financeiro levou as pessoas a endividarem-se de forma insustentável, até à falência de muitas famílias e empresas que fecham portas em catatulpa;
·         A dívida pública cresce ainda que se esteja alegadamente a tentar combatê-la com políticas “troikanas” que nos fizeram entrar num círculo vicioso de contrair divida para pagar a dívida, sem setor produtivo a criar riqueza;
·         Perde-se o direito ao trabalho, este tornou-se um luxo de que muitos já foram excluídos;
·         Quem trabalhou e descontou uma vida, não sabe se alguma vez terá direito a uma reforma digna;
·         O futuro dos jovens está empenhado, no país que os viu nascer, restando-lhes emigrar;
·         A liberdade de prosperar por força do trabalho, foi-nos cerceada por um estado desgovernado ao longo de décadas, pela corrupção instituída e pela especulação financeira desregulada, consumindo recursos e desviando-os da economia real;
·         Perde-se o direito às coisas de nossa propriedade, conquistadas com trabalho de uma vida, as quais para muita gente se tornaram insustentáveis de manter;
·         Entrámos na era das execuções despudoradas e persecutórias, sem alternativa para os que estão na mó-de-baixo do sistema;
·         Vivemos na insegurança de perder as nossas economias de um dia para o outro bastando que o banco no qual depositámos confiança nos “estrapaceie” o dinheiro jogando na roleta de casino da especulação financeira;
·         Famílias em desespero, os velhos e os mais desprotegidos da população vêm-se cair numa situação de pobreza envergonhada, ficando na dependência da caridade alheia, com progressiva desresponsabilização do estado social.
Perante o mundo à nossa volta a desabar muita gente perdeu a esperança e sente um grande desalento porque, não obstante os protestos e a vozes de apelos de mudança a eclodir, tudo parece não ter solução.
A mim o que me apetece é hibernar. Parece até que estamos na estação apropriada para tal. Hibernemos, pode ser que entretanto nasça um tempo primaveril novo.
Os Maias tinham razão. O mundo está a acabar. Resta saber o que vem a seguir. Um bom 2013 a todos, passe o eufemismo.

domingo, 28 de outubro de 2012

REFUNDAÇÃO PRECISA-SE


Já vivo aqui há anos suficientes para começar a ter a ideia, mais ou menos consolidada, que Portugal não é um país a sério, apenas um simulacro.

Nessa perspetiva tenho sido apologista e sempre lutei pela REFUNDAÇÂO do país, no sentido de objetivar um país novo e reciclado, organizado e amigável para os seus cidadãos. No entanto, os defeitos tornaram-se instituições difíceis de erradicar, pela tenacidade dos interesses a quem este funcionamento anómalo interessa e perante a condescendência da população que aceita este "status quo" como normal.

Vir agora o primeiro ministro falar em “refundação” do programa de ajustamento até parece que vem a propósito, não fosse o próprio tê-lo dito como poderia ter dito outra coisa qualquer para transmitir algo que nem ele próprio sabe o que é, ou sabe, mas não quer dizer por enquanto para nos brindar daqui a algum tempo com uma surpresa daquelas que já vamos sabendo. Portanto não deve ser coisa boa, tanto mais que as reformas que o país realmente precisa, ele não vai ser capaz de as fazer, já se percebeu, não só porque muitos dos problemas são sistémicos e extravasam o âmbito nacional e ele não tem poder para mudar, como não tem capacidade para renegociar o que quer que seja nem cá dentro nem com os de fora, os parceiros europeus.

Refundar seria o quê, afinal? Algumas dicas:

1-       Acabar com a grande corrupção instalada, o que se consegue com rigor e ética e se complementa com uma justiça incisiva e célere. Não mais BPN’s, dias loureiros, valentins loureiros, isaltinos morais, vales e azevedos, e outros que tais, sacos azuis e promiscuidades entre clubes futebol, construtoras e políticos que estagiam na governação para ingressarem depois nas grandes empresas com proteção do estado (parcerias publico-privadas, pagamentos de rendas de compensação, que somam a lucros chorudos, enquanto cá fora destas crisálidas o país empobrece).

2-       Acabar com a pequena corruptela de vão de escada e com o expediente do favorzinho. As instituições prestam um serviço público e os funcionários são isso mesmo, devem funcionar de forma eficiente, não estão nos postos de trabalho para fazer favores a quem lhes paga os ordenados.

3-       Reformar em profundidade o sistema fiscal, erradicando definitivamente do léxico da atividade económica expressões como  “quer fatura?” ou “não passo fatura”e vedando a possibilidade de fuga de capitais para off-shores e paraísos fiscais a que apenas as grandes empresas e os bancos têm acesso. Se todos pagarem, todos pagam menos e haverá mais dinheiro disponível para a comunidade usufruir e para o país se desenvolver.

4-       Apetrechar o país com uma moldura legislativa composta por leis claras, objetivas, sem ambiguidades e complexidades, que apenas contribuem para o seu incumprimento ou inviabilizam a sua aplicação por excesso de zelo ou inadequação.

5-       O Estado e os governantes e os políticos em geral têm que ser exemplo de ética e de conduta. Não são admissíveis mais josés sócrates a contribuir definitivamente para arruinar o país ou sermos obrigados a ser (des)governados e a conviver com josés relvas que vivem no paradigma da “chico espertice” que mais não é que a desonestidade mais abjeta e aviltante.

6-       Erradicar a burocracia estupificante e paralisadora nas coisas mais elementares da vida do país, e simplificar procedimentos de modo a agilizar a vida das pessoas e promover a atividade económica. Tempo é dinheiro e as pessoas não são escravas para serem obrigadas a fazer serviços que não passam de formalidades sem utilidade nenhuma, que não seja justificar uma máquina administrativa que é um polvo, com muitos tentáculos e pouca cabeça.

7-       Repensar a função do estado de modo a que este não faça o que não tem que fazer e faça melhor o que são as suas obrigações, o mesmo é dizer racionalizar orgânicas e instituições, otimizando a sua distribuição e quantidade, bem como a coordenação de serviços, com critérios que não podem ser cegos, mas antes ajustados às necessidades do país, num contexto nacional que dê espaço à sociedade cívil para se expandir e ser ela própria o motor da economia e da iniciativa.

8-       Regular a atividade dos bancos e instituições financeiras e adotar mecanismos para acabar com a especulação financeira. O dinheiro deve ser reinvestido em setores que produzam bens transacionáveis de forma a produzir mais riqueza. Os bancos não podem funcionar com uma enorme rede de “Donas-Brancas” à escala global.

Se PPC e Vitor Gaspar fossem capazes de levar estas tarefas hercúleas a cabo, coisa que nem se vislumbra um apontamento, então talvez tivessem argumentos para negociar o memorando de entendimento e chegar à tal “refundação” de que fala o PM de forma enigmática (desconfiem). De outro modo, parece-me que a refundação vai traduzir-se em novos pacotes de austeridade e regressão cada vez maior do estado social. Por outras palavras, iremos pagar mais para ter de contrapartida cada vez menos. E esta atitude prepotente só tem uma de duas designações: ROUBO ou EXTORSÃO. Resta saber até quando estão os portugueses dispostos a serem roubados e extorquidos? Neste contexto já sou eu que digo: declarar rendimentos ao estado tornou-se um ato suicida e de insanidade. Quando o carrasco persegue a vítima só há um caminho possível: fugir, cada um por si.

Custa-me ter que reconhecer mas é este o rumo que o país está a tomar. Só quem é cego é que não vê.

domingo, 16 de setembro de 2012

O POVO UNIDO


Já aqui escrevi que discordava das novas medidas de austeridade. Na verdade, o benefício da descida da TSU para as empresas seria desejável, não fora esta medida contrariada com a medida oposta, que agrava em termos gerais a TSU, retirando mais dinheiro às famílias, oprimindo o consumo, logo, as vendas de bens e serviços das empresas que trabalham sobretudo para o mercado nacional, as quais representam 99% do tecido empresarial português. Muitas destas são empresas familiares ou individuais e são, na realidade, o posto de trabalho e o ganha-pão de quem as dirige. É pois falacioso que a medida venha contrariar o aumento do desemprego. Virá sim, mais uma vez, subtrair dinheiro à economia, empurrando-nos para uma recessão cada vez mais cavada. Insistir nesta fórmula começa a ser falta de lucidez, visto que não nos coloca na rota da recuperação económica nem na do cumprimento das condições do resgate financeiro, encarando a segunda meta como variável direta da primeira.  

Em condições tão adversas de cortes e mais cortes, já quase ninguém neste país ganha para pagar impostos, o Estado passou a comer connosco à mesa, quando não se trata mesmo de tirar o pão da boca de quem já não tem para se sustentar. Não se trata de dramatização. Infelizmente é a realidade.

Os portugueses já não aguentam, não acreditam na bondade dos sacrifícios e já não têm esperança. Perderam a confiança num governo e num primeiro-ministro, cujo discurso hoje não tem nem um vislumbre do que afirmou, na fase em que se apresentou ao eleitorado como o salvador da Pátria.

Num ato de protesto e de genuína indignação, os portugueses saíram à rua numa manifestação verdadeiramente espontânea e ordeira, em que pequenos episódios residuais de alguma tensão mais truculenta não ensombram a forma digna como as pessoas se manifestaram, entoaram palavras de ordem e choraram as suas aflições mais profundas e veladas. Esta é a voz do povo, dos cidadãos, das pessoas, que não são números, nem cifrões, nem meros contribuintes e têm uma palavra a dizer sobre o seu próprio destino. É esta a via mais espontânea que o povo tem para fazer ouvir a sua voz e fá-lo legitimamente contra a prepotência de que está a ser alvo, e do pacote de medidas que lhe despejam em cima, sem direito ao contraditório.

Os governos têm legitimidade para governar, mas não têm legitimidade para enganar as pessoas. Os portugueses disponibilizaram-se a pagar uma dívida pública que em boa medida não ajudaram a criar, mas ainda assim dispostos a salvar a pátria do descalabro da bancarrota e a sua própria reputação como nação. (Quem mais?) O que os portugueses exigiram a PPC e ao governo quando o elegeram foi rigor nas contas, competência na resolução de um problema bicudo, imaginação para encontrar as soluções eficazes no controlo do défice e da dívida, minimizando os impactos sociais que, já se sabia, ainda assim iriam ser penosos. Missão difícil, sem dúvida, mas quem se apresentou como alternativa de governação já sabia ao que vinha. Teriam que estar preparados. Porém, ao cabo de mais de um ano de governação, as contas estavam erradas e nunca são transparentes, os cálculos projetados saíram gorados e não existe uma estratégia que vise a recuperação económica do país. O que temos são uma sucessão imprevisível e em roda livre de medidas avulsas, fazendo lembrar o sufoco que foram os sucessivos PEC’s do anterior governo PS, na fase final que antecedeu a queda do governo Socrático.

Face aos resultados insatisfatórios, os portugueses questionam-se legitimamente e, cada vez com mais convicção, sabem que o rumo que o governo está a tomar não nos vai levar a bom porto.

Os portugueses, em união de todos os quadrantes políticos, classes e setores de atividade, deram ontem um sinal claro que não aceitam mais medidas de austeridade, não só porque já não podem pagar mais, mas sobretudo por que não acreditam nelas para nos tirar de maus lençóis. E esta é uma nota inequívoca de que, aos olhos dos portugueses, o governo está descredibilizado, revela-se incapaz de conter o défice e navega à vista. Em política há sempre alternativas e o caminho não tinha que ser este. Assim o governo e Pedro Passos Coelho tenham disponibilidade mental para colocar outras soluções em cima da mesa e para as negociar com a Troika, sem a obstinação de querer ser o bom aluno, quando isso se resume a mera engenharia financeira de merceeiro e ao empobrecimento e colapso económico do país. O que PPC tem que perceber é que os interesses que ele deve defender em primeira instância são os da gente, porque a gente é o país e não merece este castigo que lhe infligiram.

domingo, 9 de setembro de 2012

VIVER UM DIA DE CADA VEZ


O primeiro-ministro veio animar o nosso fim-de-semana com o anúncio de novas medidas de austeridade.

Sob o pretenso pretexto de dar mais condições de competitividade e promover o emprego por parte das empresas, o governo reduz a taxa social única em 5,75 pontos percentuais. Em contrapartida aumenta em 7 pontos percentuais a prestação social dos trabalhadores. O balanço, claro, é favorável para o lado do Estado que arrecada mais 1,25% por trabalhador e por mês em prestações sociais, o equivalente a 36% do salário, a suportar equitativamente pelo trabalhador e pela empresa. Esta foi a medida encontrada para sonegar mais dinheiro aos portugueses para remendar o eterno buraco do défice e disfarçar a derrapagem orçamental, em alternativa ao corte dos subsídios, medida declarada inconstitucional.

Na prática a nova medida significa mais dinheiro retirado à economia real e é um falso paliativo para as pequenas e médias empresas que representam, note-se 99,6% do nosso tecido empresarial. Significa mais uma vez a redução de salários e, consequente, a diminuição do poder de compra de bens e serviços, logo, as empresas que dependem do mercado interno serão afetadas negativamente.

De uma forma ou de outra a aritmética mais uma vez subtrai aos mesmos, trabalhadores e pequenas e médias empresas, e soma aos gigantes que detêm monopólios de bens essenciais. Favorece as empresas mais sofisticadas e os acionistas tubarões que agora dominam as nossas empresas estratégicas. Contribui para reforçar a “chinização” e “angolinização” do nosso país e os interesses inerentes. Mais do mesmo, portanto.

Esta política não presta na medida em que sobrecarrega mais uma vez a já exaurida classe média, e não promove nenhuma mudança estrutural conducente à recuperação económica, bem pelo contrário.  E não tinha que ser assim.

O Governo comporta-se como tendo um casamento de conveniência com a população portuguesa, mas baba-se perante a sua amante de luxo: a Troika. Esta é uma coelhinha tonta da Playboy e está mais ralada com a defesa dos mercados e em manter o sistema financeiro a funcionar sem empecilhos do que com os desgraçados dos portugas. A população serve para pagar os custos da brincadeira com o seu trabalho e manter a casa limpa e sem mácula. E quem sai fodido somos nós todos.

Ora a mim, como a muita gente, pouco me importa desde quando remonta o regabofe financeiro que nos colocou nesta alhada. Sei é que esta terapia de choque não é solução e nos vai enterrando cada vez mais fundo. E sei que este governo está a fazer tudo ao contrário do que apregoou, não está a ser hábil a negociar as condições do resgate, não está a ser contundente nas reformas que podem inverter o rumo dos acontecimentos e prefere a via mais simples e fácil de angariar receita sonegando-a aos rendimentos do trabalho, ou não fôssemos o elo mais fraco. Mas talvez se enganem neste ponto.

Por isso, o conselho que dou a todos é:

- Vivam um dia de cada vez aproveitando tanto quanto uma vida despojada vos possa proporcionar;

- Metam os cornos tanto quanto puderem a quem vos trai todos os dias despudoradamente e não tem coragem de defender o seu povo;

- E comecem já a tratar do divórcio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O BEIJO DO CARRASCO

Têm siglas tão enigmáticas como assustadoras, normalmente com duas ou três letras e são a nossa maior dor de cabeça por estes dias:
IVA, IRS, IRC, IMI, IMT, ISV, IUC, PEC; ISP, IS, IT….

Para além destes pomposos impostos, existe toda uma panóplia de taxas e contribuições com que nos brindam nos mais diversos ramos e sectores tendo em vista arrepelarem-nos o couro cabeludo e chuparem-nos até ao tutano: ele é taxas moderadoras, taxas de apreciação de processos, taxas de licenciamento, taxas de junção de documentos, taxas de utilização, taxas de publicidade, taxas para ocupação da via pública, de estacionamento, contribuição audiovisual e por aí fora, só para citar as que me lembro, enfim, um pinga-pinga que não tem fim.

Feitas as contas de todos os impostos, taxas e contribuições, cada português consome cerca de 70% do seu rendimento em tributações, ou seja, está a trabalhar para o Estado. E ainda que por definição o Estado sejamos todos nós, a verdade é que o Estado é uma máquina trituradora de recursos, onde a má gestão dos dinheiros públicos e a corrupção paulatinamente se traduzem no desperdício e no desvio dos dinheiros do seu fim último e exclusivo, em prol do benefício da coisa pública, para outros destinos ilegítimos e muito pouco recomendáveis. O algodão não engana e basta passá-lo ao de leve pelos recantos da mansarda portuguesa, que ele fica logo negro de porcaria.   

Esmifrados pela máquina fiscal já estamos todos anémicos e a economia, que é o nosso ganha-pão, também por tabela. É que para salvar o Estado da falência, estamos todos a ir à falência, ou seja o país afunda. Logo, por associação, os salários dos que trabalham e os rendimentos das empresas vêm minguando, minguando que até mete dó. Tá visto que uma desgraça nunca vem só e então lá vêm também os cortes brutais nos apoios sociais na saúde, na educação, na cultura…

Um Estado falido é uma coisa constrangedora porque come à mesa de todos nós em regime de diária completa, cama, mesa e roupa lavada. Para o efeito usa umas coisas chamadas leis, feitas à medida, e quem não cumpre é criminoso, portanto é comer e calar, pois sempre é preferível ser pobre do que perder a honra com atos de fora-da-lei.

Sujeitos ao saque do nosso pezinho-de-meia para colmatar o buraco financeiro, pagar os juros que daí advém, garantir a manutenção de uma máquina administrativa obesa e despesista e das empresas que vivem sob o chapéu protetor do Estado, devemos até ficar agradados por sermos chamados a ser os salvadores da Pátria e da paz instituída, pois é uma honra ser patriota! Ah! Esquecia-me que ainda nos convocam para branquear as burlas das teias financeiras privadas e assim dão-nos mais uma oportunidade de ser altruístas e magnânimos na nossa generosa atitude de alegres pagadores.

No centro das nossas atenções estão agora o carinho e aconchego que dedicamos às parcerias público-privadas e às empresas públicas, esses paradigmas da lógica empresarial onde se gasta à tripa-forra e produz-se “zero”. E claro, a cereja no topo do bolo, uma coisa que dá pelo nome de BPN que é assim uma espécie de reduto de “irmãos metralha” de cartola e de safados, porque sempre se safam das malandragens que vão urdindo.

Que nos peçam sacrifícios quando não têm mais onde recorrer parece inevitável, mas quando esses sacrifícios nos põem a pão e água enquanto alguns comem caviar, quando a ameaça é a destruição de toda a capacidade produtiva do país e a ruína a curto prazo da classe média, o assunto torna-se preocupante. E quando a toda esta situação se acrescenta a impunidade de responsáveis, governantes deste país ou outros da esfera privada, que não são chamados às barras dos tribunais e à praça pública para responderem por atos que conduziram o país à situação de ruína em que se encontra, que os tribunais sejam impotentes para julgar crimes económicos demonstrados em tese e à vista de todos, então aí a extorsão fiscal passa a ter contornos de imoralidade.
É a escravatura moderna! “Obrigam-nos a pagar e chamam-nos contribuintes”. (A frase não é de minha autoria, achei-a no facebook e pespeguei-a aqui.)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O CÃO DAS LÁGRIMAS E A CRISE DA DEMOCRACIA

A palavra “crise” chegou, instalou-se no nosso vocabulário e a dita nas nossas vidas, traduzida numa evidência: para a generalidade dos mortais (nós) não há dinheiro, evaporou-se, o que há não chega e cada vez é mais escasso e a paralisia não gera dinheiro novo.  
Diz o povo que “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Por isso a escassez financeira que trás as nações à míngua rapidamente dá lugar à instabilidade social e política e à recessão económica. No plano familiar e pessoal, disparam os desaguisados e aumentam os divórcios e os suicídios. As estatísticas provam-no. O pessoal novo “dá de frosques” para outras paragens. Os velhos ficam para trás e os de meia-idade desesperam sem saber o que fazer à vida, subitamente desamparados, vendo esfumar-se tudo o que lhes estava alegadamente garantido e por que lutaram toda a sua vida. As nações sujeitas a este regime de garrote entram em desestruturação.
E no plano da Democracia? Da soberania que emana da vontade do povo, o que dizer?
Centremo-nos no caso da Grécia, esse caso de estudo da nossa era. Um paradigma do desmoronar do sonho europeu.
Na sequência das eleições de Domingo passado, o país entrou num círculo de ingovernabilidade, que já vinha sendo evidenciado desde que o colapso financeiro da Grécia se declarou o recurso à ajuda externa para expurgar as contas e evitar (adiar?) a banca rota se tornou inevitável. Senão vejamos esta sucessão de factos insólitos:

- O partido mais votado, Partido da Nova Democracia, não conseguiu o apoio de outras forças políticas para constituir governo e sai de cena, cedendo o passo ao segundo partido mais votado;

- Neste caso, a Coligação de Esquerda Radical (Syrica) quer rasgar o acordo com a Troika, tendo imposto esta condição para estabelecer alianças com outras forças políticas, o que no atual espectro partidário tornou impossível a formação de uma maioria governativa;

- Logo estes passaram a batata quente ao terceiro partido mais votado, os socialistas do Pasok, sendo que daqui não virá nenhum milagre;

- Acresce que os resultados excluem 38% da população votante, que se absteve[i];

- Dos votantes 14% votaram em pequenos partidos, não alcançando número suficiente de votos para se fazerem representar;

- Ou seja apenas uma percentagem de 48% da população, está representada pelos eleitos;

- Considerando as opções políticas do atual espectro partidário, apenas um terço da população apoia o memorando da Troika, o que levanta uma questão de legitimidade das políticas e de representatividade da vontade popular;

- Sem governo à vista ou com um governo anti-austeridade, a Grécia arrisca-se a não receber a próxima tranche de ajuda externa e precipitar a banca rota já em Julho.
-Se os gregos forem chamados a votar novamente nada permite vislumbrar que daqui saia a solução.

Neste cenário grego, a Europa está com a respiração suspensa; a Grécia está em roda livre, a imprevisibilidade do que irá acontecer é total; o cenário é surreal; a democracia está em crise e os sinais são de alerta para os perigos que a ameaçam: a desregulação do poder financeiro; o caos social; o recrudescer dos extremismos.
A imagem que me ocorre a propósito retiro-a das histórias visionárias do Saramago “Ensaio sobre a Lucidez” e “Ensaio sobre a Cegueira” e o seu fabuloso “cão das lágrimas” como último reduto para o consolo num cenário social em processo de desestruturação.

[i] a cifra não é consensual existido várias fontes com valores díspares que vão dos 35% aos 45%. Assumimos um valor médio e que foi também referido ontem na SIC Notícias por José Vitorino.

domingo, 1 de abril de 2012

DISSERTAÇÃO SOBRE A AMIZADE

A meio do nosso percurso de vida, não sei por que instinto natural ou qualquer acto reflexo, somos levados a fazer um balanço das nossas vidas.

Vivemos sempre entalados entre dois tempos: o passado e o futuro. E porque o presente é efémero agarramo-nos às nossas memórias passadas e a partir delas construímos / sonhamos o nosso futuro. Assim caminhamos lentamente num longo percurso, em busca do que designamos “felicidade”, algo tão utópico como real, passe a aparente contradição.

A palavra “saudade” (reparem que não disse “saudosismo”) é das mais caras que a língua portuguesa tem e uma das mais profundas de sentimento. A saudade existe porque a nossa memória constrói-se sobre boas experiências, já que as más não deixam saudade, não obstante deixem marcas, muitas vezes indeléveis. No centro das nossas boas recordações existe sempre a amizade, o amor, as relações fortes. A nossa felicidade existe de facto e é feita de momentos únicos na relação que mantemos com os outros. Ninguém é feliz sozinho. Os amigos, as pessoas que nos são queridas serão sempre a nossa referência, mesmo quando não estão perto de nós. Os nossos valores vão-se construindo com exemplos, experiências e sensações que desenvolvemos a partir das nossas relações.

As amizades e os afectos ao longo da vida fazem de nós gente e sem elas não passaríamos do pequeno grão de areia no meio de todo um universo grandioso mas indiferente aos nossos dramas pessoais. Do futuro esperamos sempre poder ser amados e amar, recordar e ser recordados. A pouco e pouco vamos trilhando um caminho onde cada vez mais o rumo se torna imaterial, onde nos vamos despojando do acessório e nos focamos no que realmente nos faz felizes e cada vez precisamos mais: os afectos.
Aos meus amigos de sempre, da infância, da adolescência e da minha juventude, aos meus amigos de hoje que perdurarão na minha vida e na minha memória quero dizer que os adoro, que sou feita de todos eles e dos momentos que passámos juntos, rimos e chorámos juntos, dos momentos em que demos as mãos e nos entreolhámos. A minha felicidade passa por aí, passou e virá de novo em cada instante de amizade verdadeira, nesta lenta marcha das nossas vidas entrecruzadas, entre o ontem e o amanhã, até sempre. Porque tudo, enquanto dura, é eterno.


sábado, 28 de janeiro de 2012

BARRIGA - ALUGA-SE!

No passado dia 19 foi a discussão à Assembleia da República um projecto de lei que visa despenalizar certas práticas de Procriação Medicamente Assistida (designação horrível), incluindo a prática das chamadas “barrigas de aluguer”. As propostas partiram do PSD, PS e BE. O primeiro defendendo a prática só para casais em que a mulher é infértil ou com forte probabilidade de desenvolver uma gravidez de alto risco, os restantes pretendendo alargar esta prática a mães solteiras e homossexuais. De todas as maneiras, em forma mais ou menos light ou heavy,  trata-se de despenalizar uma prática perante a qual uma mulher se torna hospedeira de um embrião e de um feto, dá à luz uma criança, depois entrega-a a um casal, que passa a ter plenos direitos paternais sobre essa criança, e de seguida vai à sua vida! Não se trata de uma questão de altruísmo, mas de um negócio contratualmente estabelecido, com raias do mais sórdido que pode existir: tráfico humano.
O assunto não só é polémico e fracturante, é absurdo. Não faz sentido sequer discuti-lo ou colocá-lo como hipótese. Legislar sobre o absurdo é algo que não tem cabimento e é perverso. Torna inócuo o que é aviltante, discrimina socialmente os actores desta estranha parceria, rebaixa a condição da mulher que gera uma vida dentro de si, relegando-a para a condição de um mero pacote de embrulho e reduz a mercadoria algo que jamais será transaccionável: a vida humana.
Pergunto, que mulher é essa que se disponibiliza para levar por diante uma gravidez, carregar uma vida nove meses, dar à luz, e entregar essa vida nos braços de outrem sem qualquer problema de consciência ou vislumbre de sentimento, e a troco de quê? Que porcaria de lei é esta que reduz à insignificância o milagre da maternidade? Para proteger quem? Qual das mães é a verdadeira?
Penso que se está entrar por um terreno demasiado movediço para sequer se pôr o pé, o milagre da maternidade, com toda a carga emocional que envolve para a mulher-mãe. Uma mulher jamais será a mesma antes e depois de carregar uma vida durante nove meses, de lhe dar sustento e calor para poder singrar. Dar à luz transfigura para sempre uma mulher.
É pois esta uma discussão patética. Sinceramente, com tanta criança desprotegida por esse mundo fora, a precisar de colinho e de protecção, não faltam aos casais inférteis oportunidades para adoptar e dar colo a uma dessas crianças, se outra técnica das muitas que há de procriação medicamente assistida falharem, ou caso não queiram submeter-se a elas. Tudo o resto é puro egoísmo. O mais que por aí existe no submundo é tráfico humano, logo é crime, e assim deve continuar a ser.

sábado, 14 de janeiro de 2012

C'O A BRECA! A DANÇA DAS CADEIRAS.

Está-se cada vez melhor neste cantinho à beira mar plantado (ou será lixado?)
1-      A Standard & Poor’s atirou-nos também para o caixote do lixo. Seremos assim tão mal cheirosos? Eu até costumo andar limpinha e perfumada e vejo, por maioria de razão, toda a gente andar asseada. Dizerem que a dívida é tóxica ainda se compreende e já nós sabíamos, que andamos afogados nesse maldito veneno. Agora “LIXO”? Esses senhores ratões das agências de rating estão feitos com os grandes interesses americanos e querem acabar com o Euro, esmagar-nos, isso é claro. Espantoso que a Europa, o grande velho continente, esteja completamente impotente a assistir à implosão da moeda única e refém deste expediente orquestrado e comandado a partir de Wall Street. Assistir a este julgamento sumário unilateral, sem direito ao contraditório, é qualquer coisa de aberrante e incompreensível. Já percebi que nem fazendo o pino, e por mais bons discípulos que queiramos parecer, (eu diria mais asnos!) nunca faremos boa figura e seremos sempre patinhos feios. Claro, que os mais feios e enjeitados da Europa, juntamente com os gregos seguindo-se os outros todos que estão no corredor da morte para o colapso financeiro por ordem de fealdade. Ou seja, estamos condenados de qualquer maneira. Por isso, somos asnos, por acreditarmos que ainda nos podemos safar da desgraça. Ingenuidade provinciana! “Big brother is whatching you, fellows".

2-      À mulher de César não basta ser séria é preciso parecer. Pensemos nas nomeações políticas para os cargos dirigentes da EDP e da AdP. Desconheço em absoluto se os senhores(as) são ou não são competentes. Não os conheço pessoalmente. Mas mesmo que o sejam, e duvido que todos sejam, o padrão não deixa de ser o de sempre, lugares bem instalados e bem pagos para a gente de confiança dos partidos do poder, troca de favores, travestidos de serviço à nação. A verdade é que são sempre os mesmos que fazem parte de uma elite com ligações políticas em alternância com colagem ao partido rosa e ao partido laranja e seus satélites. Não adianta nada o Sr. Catroga dizer que nem é do PSD, se as amizades deste senhor pertencem todas à mesma família política. A cara de satisfação deste senhor com a nomeação para presidente do Concelho Geral de supervisão da EDP, não deixa margem de dúvida que está encantadíssimo com o cargo. Semblante bem contrastante com o que ostentava quando andava a negociar o PEC com o governo Sócrates (mesmo sendo bem pago). Depois quando este senhor diz a propósito da escolha dos nomes como Teixeira Pinto e Braga de Macedo, entre outros: “São pessoas que se dão muito bem com o presidente executivo, António Mexia, e que os chineses conhecem. … Eles conhecem-lhes a cara.” E a propósito de Celeste Cardona, do CDS: “Não sei como é que esse nome aparece”. Está tudo dito. As escolhas são do espectro partidário do poder procurando agradar aos chineses, porque eles agora também mandam por cá, e ainda parece que há uns infiltrados, pelo menos aos olhos do Sr. Catroga. Mas também já lhe conhecemos as brejeirices e a forma desbocada.
O caso da nomeação de Manuel Frexes para a administração das Águas de Portugal é mais grave. Como é que alguém que dirige uma Câmara (Fundão), em litigância com aquela companhia das águas pode, em circunstância alguma, ser a figura para o lugar da empresa com que está litigante? Não pode ser minimamente credível, antes é espantoso. Só tem uma explicação e todos sabemos qual é. Não venham cá enganar os tolos em maré eleitoral. Isto vai deixar rancores na população que já não aguenta assistir a esta dança de cadeiras.
E isto é só o começo. Já se deu antes coma a Caixa Geral de depósitos e de futuro estão uma série de empresas públicas estratégicas, com cargos bem remunerados, à espera de serem preenchidos. Esperem para ver as nomeações para os outros grandes cadeirões de empresas como a EPAL, Águas do Algarve, CP, REFER, Metropolitano de Lisboa, GALP, ANA…. Por aí fora. Vamos ter muito para ver nesta dança de cadeiras.