domingo, 14 de agosto de 2011

PORQUE É QUE O NOSSO PAÍS É TÃO BADALHOCO?


Lembro-me que as primeiras vezes que saí do país, ainda muito jovem, e fui para países do centro da Europa, a primeira sensação que tinha quando regressava a Portugal é que havia muito lixo por todo lado, muita coisa partida, em mau estado e muita degradação. Claro que esta imagem me sobressaía em resultado de um contraste entre o que eu tinha visto nos outros países e o que via quando chegava ao nosso, pondo em evidência aos meus olhos o aspecto desleixado de muitas cidades, vilas e paisagens. Havia realmente diferenças. Lá via-se tudo limpo, organizado e cuidado e aqui tudo parecia muito mais votado ao abandono e ao desleixo. Era frequente ver lixo à beira da estrada, por exemplo, lixeiras a céu aberto, casas velhas a cair e muitas construções degradadas, equipamentos partidos, sujos e conspurcados, ruas sem pavimento e poeirentas, por aí fora.
As coisas melhoram consideravelmente de então para cá, ao nível do país, no que se refere à limpeza e à conservação dos bens e do espaço público. No entanto, continuamos a ser um país que não resolveu o seu problema de falta de zelo e isso sempre me choca, porque sou sensível a isso e gosto de tudo limpo e organizado, como na minha terra de origem.

Retomando o tema, vou falar-vos um pouco mais sobre a minha terra, Portel, para perceberem a que me refiro no aspecto da limpeza.
A minha terra sempre foi limpa. Sabem porquê? Porque se caiavam as casas por dentro e por fora e fazia-se uma limpeza geral profunda em casas e equipamentos todas as Primaveras. É mesmo uma tradição. As mulheres lavavam constantemente a “soleira” da porta de casa e frequentemente essa limpeza estendia-se até ao meio da rua. Cada vizinha varria e esfregava em toda a frente da sua casa até meio da rua. No outro lado da rua a mesma coisa, garantindo assim a limpeza total da mesma. Muitas vezes fazia-se o “pezinho” ou a “barrinha” da casa, significa isto retocar a caiação ou a pintura na zona exterior mais rente ao chão que era a que se sujava mais por causa da poeira e dos salpicos da chuva. Assim as casas mantinham-se impecavelmente cuidadas e as ruas limpas todo o ano.
Actualmente as coisas não mudaram muito por lá neste aspecto. No que se reporta à gestão de resíduos, a Câmara procede à recolha de lixo diária porta à porta. Por isso nunca há lixo nas ruas. Existe uma boa coordenação entre a Câmara Municipal e a população. Tudo funciona de forma organizada quanto a este aspecto. Meia-hora antes da recolha em cada casa põe-se o saquinho de lixo à porta bem acondicionadinho, e a seguir, “ala que estrala”, lá vem o carro do lixo e recolhe tudo. Não há cá contentores a extravasar lixo nem nódoas no pavimento. Nada! Tirando Portel só vi este sistema em Londres e em Frakfurt (sítios que visitei e onde reparei nisto). Lá faz-se a recolha com tudo separadinho por categoria de resíduos. Em Frankfurt as casas possuem locais próprios exteriores para meter estes mini-contentores domésticos. Pois é. Para quem ache que isto não é possível de fazer nas grandes cidades, aí têm. Em Lisboa isto também se faz em algumas zonas mais antigas da cidade. Já perceberam que não sou apologista dos sistemas de recolha tipo “ecopontos”. Normalmente são locais de acumulação de lixo, cheiram mal e são inestéticos apesar da evolução de design dos contentores e do recurso ao sistema enterrado.
Dir-me-ão: Mas isso é impossível de implementar cá, porque as pessoas não estão habituadas e isso não funciona, os portugueses não têm esse civismo e nem todos são alentejanos. Realmente é verdade que os portugueses ainda deixam muito a desejar em matéria de civismo, ainda é frequente ver atirar lixo para o chão deixar os cães fazer cocó nos passeios e coisas que tais. Pois bem, eu digo: habituam-se. Reparem que no Alentejo os homens também são em geral uns badalhocos. A limpeza deve-se sobretudo às mulheres. São elas que têm essa cultura do asseio, aliás como a da gestão (tema para outro artigo). Elas limpam, limpam, limpam. Mas elas conseguem. Se elas conseguem e se houver uma aprendizagem a começar nos bancos da escola, o resto da população também chega lá. Às Câmaras Municipais compete também incutir hábitos de civismo e de limpeza na população e dar exemplos de boa conduta, claro.
A propósito, uma nota também positiva para a praia de Faro. Nunca tinha visto a praia de Faro tão limpa como este ano. Parabéns à Câmara Municipal de Faro quanto a este aspecto positivo. Limpeza dá gosto.
Agora falemos dos equipamentos. Vou dar um exemplo concreto: A eco-via do Algarve. Investiram-se milhares de euros na construção da eco-via (bem), gastou-se um balúrdio em sinalização específica (quanto a mim perfeitamente desnecessária). Parte dela está num estado miserável e os sinais estão a ficar todos partidos. Há dias um amigo que gosta de circular por aí de bicicleta queixava-se disso mesmo no Facebook. Desabafava ele, e com razão, que os utilizadores não merecem este tratamento e desconsideração. Só para ilustrar, apresento uma fotografia no fim deste texto, mostrando o estado em que se encontra um dos suportes de sinalética (caríssimo e que não serve para nada) desta eco-via.
Senhores Presidentes de Câmara e senhores “decisores de feitura de obras públicas”, não andem a gastar dinheiro mal gasto em coisas que acabam destruídas e não têm utilidade prática. Conservem o que constroem, para não ser mais um dinheiro deitado à rua. Valia mais utilizarem o dinheiro que gastaram na sinalética inútil da eco-via do Algarve e o aplicassem a conservar o bom estado da mesma que apenas requer limpeza, podas, conservação de pavimentos e pouco mais. Não se gastam recursos em piroseiras de novo-riquismo e depois nunca mais se olha por aquilo. Nada mais errado. Já Aristótoles dizia: “O belo é o esplendor da ordem”. Por isso, sejam criteriosos nas vossas escolhas e zelosos na manutenção do nosso espaço público. Não façam obras de fachada, sem viabilidade e que mais tarde não podem manter (lembro-me logo também dos estádios). Todos vos agradecerão se forem melhores gestores e mais zelosos. Esperamos com isso e com o civismo de todos vir a ter um país menos badalhoco e mais civilizado. Como deve ser.



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