domingo, 2 de outubro de 2011

O SONHO EUROPEU OU O PERDÃO DA DÍVIDA (I)

O sonho europeu que aspira a um continente com uma moeda forte e próspera do ponto vista económico, com uma sociedade livre e solidária, alicerçada numa democracia alargada, com respeito pela soberania e diversidade dos povos, entrou em crise existencial, porque como diz o povo: “Casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Durante décadas, numa euforia colectiva, o sistema financeiro através das instituições bancárias, foi injectando dinheiro na economia sem cautelas, num exercício parecido ao jogo de roleta de casino: apostar muito para ganhar muito mais. Os países mais pobres, como Portugal, tiveram acesso a grandes quantias de dinheiro que lhes permitiram modernizar-se e retirá-los do atraso em relação aos seus parceiros mais ricos. Os países ricos da Europa tiveram a sua oportunidade produzir e vender mais em novos mercados ávidos de consumismo e agora com dinheiro abundante, sem restrições alfandegárias e sem obstáculos de políticas proteccionistas nacionais e regionais.
Dinheiro em abundância, crédito fácil, juros baratos formaram o “caldo de cultura” propício ao consumismo de “novo riquismo” colectivo e satisfizeram a ganância e a ambição de muitos durante tempo demais. Muito desse dinheiro e do lucro que produziu não serviu para reinvestir e criar mais riqueza, simplesmente desapareceu e é irrecuperável em toda a linha, sector privado e público incluídos. Uma boa parte desse dinheiro foi para carros, casas, viagens, jantares, objectos tecnologia de ponta, foi para a corrupção e favorecimentos, para estradas e obras públicas de fachada para angariar votos, muitas sem utilidade, e muitíssimas sem racionalidade. Resumindo, uma fatia substancial dos recursos consumidos transformou-se num monte de sucata ou, simplesmente, evaporou-se. Esse dinheiro, essa seiva, não se traduziu em lucro mas em desperdício.
É obvio que o deslumbramento provocado pelo dinheiro é algo de que todo o ser humano padece, mas há um momento em que chega a factura e o credor bate à porta. Chato! A vida podia ser tão boa!   
Mas a realidade é esta: o crescimento e a ambição não podem ser ilimitados, simplesmente porque o próprio mercado não absorve o ritmo desenfreado e o planeta Terra não aguenta este galope delapidador.   
Sem deprimir, olhemos para as nossas vidas cheias de futilidades, a forma como encharcamos os nossos filhos com tudo o que não tivemos e o que compramos sem ser preciso. Pensamos que vivemos melhor, mas somos mais felizes? O que é excessivo não implica mais felicidade, apenas pode representar um prazer efémero, normalmente esgotável a muito curto prazo.
Durante muito tempo foi-se construindo progresso sobre um retorno futuro, repetiu-se a fórmula e repetiu-se novamente. Mas, porque o futuro é errático o processo redundou num colapso porque o futuro retorno foi ficando cada vez mais longínquo. A certa altura o dinheiro já não chegava para pagar as contas do presente quanto mais as do futuro e o problema avolumou-se de tal maneira originando o “crash”. E cá estamos nós em plena CRISE.
Chegados aqui, a crise transformou-nos em “pobres” a viver entre a espada e a parede e está a levar os “ricos” à loucura.  Porque os ricos que emprestam o dinheiro para este carrossel ainda não assumiram que a dívida é impagável. Por isso os “mercados” andam “tão nervosos” e até já há ricos que querem pagar mais impostos. Não será a intenção tão boa como parece, até porque não resolveria o problema, senão resultará antes da necessidade de tentar acalmar a populaça, não vá esta agitar-se em demasia com as injustiças sociais.
Assim, a resposta tem sido obrigar os governos a impor recessão aos povos. Como não está a funcionar soma-se mais recessão à recessão. Assim chegamos à Grécia, a Portugal, a Espanha, a Itália e sabe-se lá onde isto poderá ir parar. Preparemo-nos pois se a Europa não acordar a tempo a solução não vai passar por aqui. O sonho europeu afinal está a esfumar-se com a ambição de um ”jogador” ávido, que não quer perder nem a feijões.    

Sem comentários:

Enviar um comentário