domingo, 17 de julho de 2011

OS VAMPIROS


O sistema capitalista em que vivemos perverteu os propósitos de Smith, perverteu-nos como seres humanos e desvirtuou os valores que nos definem como tal. Está a transformar-nos em peças de engrenagem e a consumir-nos as energias e a criatividade.  
Adam Smith, o pai da economia moderna baseada no liberalismo dizia que “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse". Smith defendia a tese que a iniciativa privada deveria agir livremente e que o mercado se regularia a si próprio através da concorrência. O capital gerado pelos investidores além de lhes garantir o lucro desejado, acabaria por ser reintroduzido em grande parte na economia gerando emprego, progresso, incentivaria a inovação tecnológica, na busca por soluções que possibilitassem produzir mais e a mais baixo custo e induziria a uma melhoria generalizada do nível de vida das populações que teriam acesso a mais conforto e bem-estar.
Como sempre da teoria à prática vai uma distância considerável desde logo porque a teoria concentra-se na virtude e não entra em linha de conta com as variáveis que constituem os vícios que se instalam no sistema.
A crise actual não resulta assim da economia liberal baseada na produção e na competitividade mas na vampirização que resulta de uma especulação com o dinheiro, sem nenhum suporte produtivo por detrás. O deslumbramento do lucro levou à criação de um monstro a que designamos “os mercados” materializados através do sistema bancário e que mais não são do que um jogo de casino, onde se fazem apostas com os dinheiros de todos os agentes da sociedade que nele investem.
O negócio aqui é o próprio dinheiro. Vende-se e compra-se dinheiro para gerar mais dinheiro mas sem que esse dinheiro tenha um suporte na cadeia real de produção. Como se sabe o dinheiro não se reproduz por si mesmo mas a riqueza é gerada através do trabalho e o mercado é aferido pela necessidade. O consumo deve resultar de uma necessidade real. Eu preciso de comer, vestir ou calçar e por isso tenho que consumir esses bens e terei que trabalhar para poder ter acesso a eles. A economia é uma troca de valores.
Porém o que está a acontecer connosco? Somos levados a consumir mais do que necessitamos ou para além da riqueza que produzimos com o nosso trabalho e para isso induzem-nos a endividar-nos em nome do nosso próprio bem-estar e do status quo social. A imagem de abastança tornou-se um valor absoluto, ninguém quer passar por pobre! O dinheiro passou então a ser um negócio em si mesmo, servindo especuladores, sem estar associado a nenhuma criação de riqueza. Quando se atinge um nivel de consumo insustentável acontece que não há dinheiro suficiente para cobrir a despesa e entra-se em incumprimento. Nesta fase entram em cena os vampiros e mostram a face até aí oculta pela aparente prosperidade e riqueza.
Atingido este patamar, o custo do dinheiro sobe em flecha e quem já está em dificuldade afunda-se ainda mais. Do dia para a noite ficamos despojados de tudo o que temos para pagar A DÌVIDA e esta passa a reger as nossas vidas. A situação torna-se mais perversa, quando os que não se endividaram são também chamados a pagar a dívida que os outros contraíram.
O que acontece então? De um momento para o outro começam a extorquir-nos dinheiro em impostos, nos custos de toda a espécie de transacções e serviços e procedimentos a que a própria lei nos obriga em complot com os credores que assim vêm reclamar aquilo a que acham ter direito, em spreads associados a serviços que nunca pedimos, em prestações sociais que não nos garantem segurança no futuro, através da inflação, uma vez que o custo dos bens aumenta em flecha em consequência da degradação económica. De um momento para o outro já pagamos para trabalhar, se trabalhamos mais pagamos mais e o nosso esforço nunca é compensado, o que ganhamos nunca chega, simplesmente o dinheiro desaparece para pagar a dívida que o monstro "dos mercados” foi desenvolvendo e avolumando. O sistema financeiro vampiriza a sociedade e leva tudo, o colapso torna-se eminente.
Os governos tornam-se os carrascos deste sistema e são eles que promovem a execução de planos ruinosos, protegendo a banca e delapidando os recursos financeiros do trabalho e do esforço colectivo. A economia real afunda-se ainda mais e o cerco aperta-se, o círculo torna-se vicioso e o ar torna-se irrespirável. Vivemos para pagar uma dívida que não é nossa e que foi induzida para alimentar os tubarões da fiinanceirização, dos especuladores e dos agiotas.
Tenho saudades do tempo em que só tínhamos o que precisávamos, comprávamos directamente ao produtor e havia um espírito de troca de bens em benefício da comunidade. A economia local e regional era mais amigável e humana que esta economia global em que os grandes comem os pequenos. Éramos mais livres e, como tal, mais felizes. Agora vivemos escravizados para pagar dívidas mesmo que não tenhamos contribuído para elas. Os vampiros andam de novo à solta.
Deveremos procurar soluções para fugir a esta teia em que nos querem enredar. Há que resistir e agir na medida do que estiver ao nosso alcance, bem como a nossa imaginação e poder de iniciativa permitir. Aceitam-se sugestões.



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