domingo, 10 de julho de 2011

LIXO COM NOVE SÉCULOS DE HISTÓRIA!

O clima económico e político deste mundo globalizado anda frenético e descontrolado o que é muito perigoso para a nossas vidas e equilíbrio psicológico. Já não andamos todos a bater muito bem. Esta semana, como muitos de nós, fiquei varada com a avaliação da Moody’s à dívida portuguesa baixando o rating em quatro níveis de uma só vez e relegando Portugal para a posição de lixo. Além do célebre murro no estômago, levei com uma cachamorra na cabeça com esta notícia. Na verdade, eu que sou uma pessoa pacífica e franzina, apeteceu-me linchar os gajos de modo a baixar-lhes o rating da sua própria integridade física.

Numa primeira análise, sou levada a pensar que estas agências são constituídas por uma quadrilha organizada que serve interesses em empresas que financiam a dívida dos países em dificuldade. Quanto mais intencionalmente cumpridor um país se declarar (caso português) mais estes especuladores apertam, pois interessa-lhes espremer até à última estes pobres e honestos pacóvios, aplicando-lhes oportunistamente as suas taxas de juros agiotas. E assim há quem ganhe muito dinheiro à custa de salários, pensões e rendimentos de sobrevivência de outros. É este o mundo da alta finança, uns poucos são cada vez mais ricos na exacta medida em que outros, muitos, empobrecem até ao limite do intolerável. Mas tendo em conta o que vou lendo e ouvindo, a questão é ainda mais profunda, pois trata-se de uma guerra sem tréguas do Dólar contra o Euro. Enquanto o Dólar era a moeda mais forte do mundo, todos os activos transaccionáveis do comércio internacional tinham como referência esta moeda. O valor do petróleo passou a ser avaliado e pago à OPEP em Dólares desde a década de 70, e os americanos controlavam a sua balança de pagamentos, sem grandes oscilações para si próprios. O Dólar era a moeda mais aceite no mundo. Não podemos esquecer que o petróleo é a principal fonte de energia que faz mover a economia. Quem controla a produção e o preço do petróleo controla o mercado. Porém, com o surgimento do Euro e a valorização da moeda europeia face ao Dólar, desestabilizou-se esta ordem de funcionamento dos mercados e o Dólar tem vindo a perder terreno face ao Euro. Quando Saddam Hussein e o Irão começaram a querer vender o seu petróleo em Euros, a posição dos EUA ficou claramente afectada lançado achas para a fogueira da Guerra do Golfo e para o bloqueio económico ao Irão. Sadam acabou por ser pura e simplesmente eliminado. A pretexto de uma razão que não existia - a produção das armas nucleares no Iraque - e de uma plausível - o atentado terrorista às torres gémeas -, os EUA instauraram uma guerra cuja verdadeira razão é o controlo do preço do petróleo e a manutenção da sua transacção em dólares, o que só é sustentável se o Dólar não continuar a desvalorizar-se face ao Euro. A Invasão do Kuwait e a guerra que se lhe seguiu, no início da década de 90 já fora despoletada por razão idêntica - o controlo do mercado do petróleo pelos EUA.

Voltando à nossa temática, as agências de rating trabalham para quem especula. Por isso a partir de agora vou chamar-lhes “agências de ratazanas”, porque operam no esgoto, tal como as ditas criaturas e manipulam o mercado ao sabor de interesses especulativos. Em última instância estamos colocados no meio do fogo cruzado entre o Dólar e o Euro, em que os países ditos periféricos da Europa são o elo mais fraco. Na verdade, se verificarmos, a dívida de alguns estados americanos está actualmente a níveis piores que os da Grécia mas as agências de ratazanas o que fazem é proteger as empresas norte-americanas classificando-as com benevolência, numa clara política de protecção ao sistema e à dívida norte americana, que é brutal. Atesta a falta de isenção destas agências a classificação máxima que atribuíram à Lehmon Brothers ou aos bancos islandeses e irlandeses pouco tempo antes da falência destes em 2008 e 2009, facto que despoletou aliás o início da crise mundial em que todos vivemos. Porém, esta fragilidade da Moody’s e das outras agências de ratazanas norte-americanas parece passar impune aos olhos dos investidores e dos estados, inclusivamente europeus, que financiam estas agências. Pasme-se! Por mais que me expliquem não consigo fazer esta quadratura do círculo. Têm pois que existir outras razões em que a voz do dinheiro fala mais alto. A verdade é que neste mundo cheio de irracionalidades, temos de um lado um estado Norte Americano politicamente forte e organizado na defesa dos seus interesses e posições estratégicas, e do outro lado uma Europa fraca, sem força para se impor aos EUA ou outras potências emergentes e anémica politicamente. Lá veio agora o BCE colocar-se numa posição mais “amigável” em relação a Portugal ignorando a notação da Moody’s… Brada aos céus esta trama de cangalheiros. E já agora, a propósito, mais uma nota negativa ao Presidente da República Portuguesa. Agora é que acordou vindo condenar as agências de ratazanas? Lembro-me de o ouvir dizer coisa bem diferente há pouco tempo atrás. Definitivamente Cavaco Silva não acerta uma, só diz banalidades quando não é preciso e não intervém quando deveria. Já me custa a perceber porque goza de tamanho estado de graça entre a população portuguesa.

Retomando a nossa questão financeira, o problema maior, e isso é que me inquieta verdadeiramente, reside no facto de Portugal, país com nove séculos de história, poder não conseguir pagar esta dívida e vir a transformar-se mesmo numa enorme lixeira, onde a miséria irá grassar impiedosamente.

Vejamos. Estabeleceu-se um acordo com a Troika para pagar uma dívida. Na verdade, Portugal não consegue manter-se sem se ir financiar lá fora. Portugal não tem dinheiro porque não produz riqueza para manter o nível a que se habituou. Sabemos que as medidas de austeridade, poderão e irão agudizar ainda mais este problema. Com as taxas de juro da dívida a subir, (já vão aí por 19% a três anos) com tendência para crescer, os pressupostos das negociações de resgate degradam-se de dia para dia, o que é insustentável. Toda a riqueza produzida no país serve para pagar dívida e esta avoluma-se a cada dia que passa. Quem não sente isso na pele? Estamos a pagar com as nossas contribuições cada vez mais, mas na verdade ninguém nos consegue garantir que o nosso esforço venha a ser consequente no sentido de nos fazer sair do buraco. Os decisores políticos andam a empurrar o problema com a barriga mas vai haver um dia em que a coisa pode implodir. Vários especialistas, entre eles João Ferreira do Amaral, já vieram advertir que Portugal se deveria preparar e precaver para uma possível saída do Euro, pois o perigo de entrar em incumprimento, (“default”), é uma possibilidade real. Temo que venhamos a ser confrontados com um cataclismo daqueles que nos vai rachar de alto abaixo e era bom que os nossos políticos e economistas fossem capazes de prevenir em vez de remediar. A verdade é preciso dizê-la toda. Não venham desculpar-se com murros no estômago como se não estivessem à espera. Afinal quem faz as contas sabe os cenários que elas traçam. Agências fora, os indicadores estão à vista, nenhuma previsão deste e do anterior governo bate certa com a realidade que a conta gotas nos vai chegando. Se este é o remédio inevitável convenhamos que é bem amargo e injusto.

Por último, quer-me parecer que a raiz do problema é bem mais profunda que um mero resultado de máquina calculadora. Trata-se da sustentabilidade do modelo económico globalizado e não regulado no qual os estados vivem de empréstimos. Perdeu-se a noção da auto-sustentabilidade e do limite dos gastos. Os estados e os indivíduos são levados pelos especuladores a endividarem-se em nome do um bem estar e realização pessoal ou colectiva a que supostamente todos aspiram, mas o fito é satisfazer objectivos de lucro fácil baseado num sistema de roda de casino em que a casa fica sempre a ganhar. Neste esquema de financeirização sem normas de conduta e sem moral de respeito pelas pessoas e pela vida dos povos e dos países, o nosso destino será pautado pela falência do sistema e o que teremos será uma economia bloqueada, mais desemprego e miséria, em que toda a liquidez gerada será absorvida pelas operações especulativas.

Aí sim, à luz destes valores mortais da nova era do capitalismo selvagem e da sociedade consumista, em que os grandes comem os pequenos, tal como está a acontecer com a Grécia, berço da civilização ocidental e ironicamente o país onde nasceu a Democracia, os nossos nove séculos de história e de identidade como povo não valerão mais que um “fait-divers” da História e PORTUGAL ficará reduzido a um bando de pelintras miseráveis, que o mesmo é dizer: LIXO.

Haverá alguém que nos acuda?

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