sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ESPERANÇA...


O governo e o primeiro-ministro vêm anunciar que há sinais de recuperação económica…

Estamos nas 8ª e 9ª avaliações da TROIKA. De acordo com alguns dados a que tive acesso, os indicadores das políticas seguidas durante o período do resgate são:

1.       Dívida pública em crescendo, à data de Junho de 2013 avaliada em 214,57 mil milhões de euros; - 130% do PIB (segundo o último relatório do Banco de Portugal); Comparando com os dados da PORDATA desde o início de 2012 até meados de 2013, em apenas um ano e meio a dívida cresceu 22,6 %;

2.       Dívida global (pública + privada) avaliada em mais de 400 000 mil milhões de euros;

3.       O Produto Interno Bruto, em dois anos, 2011 e 2012, desceu de 171 046 mil milhões de euros para 165 409 mil milhões de euros, ou seja uma quebra de 3,3% (dados da PORDATA)

4.       Desde 2008, ano em que se declarou a crise financeira até à atualidade fecharam 246 761 empresas contra apenas 173 256 que foram criadas durante o mesmo período. Até 2007 a tendência era justamente a inversa. (segundo dados do Observatório Racius);

5.       Taxa de desemprego a rondar os 20% da população ativa e 40% da população jovem que está a entrar no mercado de trabalho;

6.       Doze mil milhões de euros, uma fatia de 15% do dinheiro do resgate, destina-se a cobrir imparidades, ou seja, vai para recapitalização dos bancos para buracos como o do BPN! 40% (?) são para pagar juros da dívida e dívida, não obstante esta continua a aumentar, bem como as metas do défice estão longe de ser cumpridas. O restante dinheiro destina-se a fazer face a despesas do Estado e apenas um valor residual entra como investimento na economia.
Estes são alguns indicadores pouco tranquilizadores, melhor, muito inquietantes, que Portugal tem para apresentar.
A política de austeridade e de cortes cegos tem-se traduzido da seguinte forma na sociedade portuguesa:

1.       Para fazer face ao desequilíbrio das contas o governo aumentou desmesuradamente impostos, retirou subvenções sociais, cortou nos salários, nas reformas, na cultura, na educação…

2.       Existem cerca de um milhão de desempregados e trezentos mil estão em situação de trabalho precário;

3.       Com redução drástica de recursos financeiros as famílias perderam uma boa parte do seu poder económico, quando não se debatem já com sérios problemas de subsistência;

4.       Com um quadro económico e político instável, os investidores não investem em Portugal;

5.       Sem trabalho, os imigrantes partem e os portugueses emigram, contribuindo para a desertificação e envelhecimento da população.

6.       O país perde “massa cinzenta” porque os que agora emigram são os mais qualificados e dinâmicos, em cuja formação o país investiu mas não aproveita.

7.       Gente altamente qualificada vê-se forçada a aceitar tarefas não qualificadas e baixos salários.
Não se constrói um país nestes moldes, vergado ao peso da “soberania” de uma dívida que em última análise resultou de má gestão e irresponsabilidade de sucessivos governos e da banca, empenhada no assédio e em facilitismos sistemáticos ao endividamento do Estado, das empresas e das famílias. A mesma banca que agora se financia através do estado, que somos nós contribuintes.
Por outro lado, é de senso comum que para haver emprego têm que existir empresas, dado que o Estado por si só, NÃO PODE, NEM DEVE ser o principal empregador. Isso representa uma carga financeira que a sociedade civil não consegue sustentar.
Quem contribuiu para o atual estado de coisas goza de uma impunidade obscena, que nos revolta e envergonha a todos.
Um país não se constrói vergado a uma dívida que subjuga a população e retira dela recursos para os dirigir aos bolsos de credores, que assim retiram lucros imorais e astronómicos, à custa do erário público.
Não se constrói um país com empobrecimento real, intelectual e moral. Reduzir o povo a pagador da dívida, é esmagar a nação e remeter o povo à escravatura da nova era. Uma nação escravizada é uma nação sem esperança.
Portugal é neste momento um país sem esperança.
Dizem-nos que devemos ser nós a dar a volta à crise, sendo criativos e empreendedores!
Desculpem?! Ser criativo e empreendedor é uma mais-valia, mas o país tem que dar condições e oportunidades que desenvolvam expetativas de vida positivas, ou seja, ESPERANÇA, que nos dê a nós, Portugueses, a força anímica para ser criativos e empreendedores.
Não sei como vamos sair disto, mas sei como muitos dos meus compatriotas sabem, que este não é o caminho.
Há que negociar com os parceiros europeus a dívida em benefício prioritário do interesse nacional, preservando a sustentabilidade económica e a dignidade das pessoas. É isso que deve estar na mira dos governantes de hoje e de amanhã. Para não chegarmos ao ponto de ser resgatados apenas pela ótica dos credores a quem um país exaurido já não lhes rende.
É de crucial importância que nunca, mas nunca mais, o país caia nas mãos de gente irresponsável que nos conduza a situações de colapso financeiro como aconteceu até aqui.
Há que corrigir os desequilíbrios que beneficiam quem tem o poder económico, as grandes empresas com monopólios de mercado, os bancos, e quem está instalado nos grupos de influência com penetrações no poder político. Há que combater a corrupção, pôr a justiça “mais justa” e a funcionar, há que governar para as pessoas não para satisfazer interesses agiotas.
Há que reformar o Estado, o que não se limita a fazer uma purga com despedimentos a granel, mas antes com critério, racionalidade e orientação quanto ao papel a desempenhar pelo Estado na sociedade. Onde é que esta discussão está a ser feita com seriedade?
Governa-se para a TROIKA ver, apenas e só, medidas avulsas e contas de merceeiro.
Não acho que se deva responsabilizar a TROIKA, eles desempenham o papel que lhes compete e este não é o seu país. Devemos responsabilizar os governantes passados pelo descalabro a que nos fizeram chegar, os atuais pelo embuste, até agora pela incapacidade negocial e pelo desconhecimento do país real, pela imoralidade e pela incompetência na aplicação de políticas que preservem o equilíbrio do tecido produtivo, o respeito pelos cidadãos e a dignidade humana.
Não podemos pactuar com governantes cujo discurso tem como único objetivo levar à desintegração da coesão social para levar a cabo medidas desastrosas, colocando em oposição e confronto, como se de fações inimigas se tratasse, privados e funcionários públicos, jovens e velhos, pensionistas e trabalhadores. Discursos falsos que induzem a população em preceitos errados e promovem a desunião. Chamar requalificação aos despedimentos, ajustamento ao empobrecimento, dizer que vivemos acima das nossas possibilidades ou invocar recuperação económica quando o que se observa é a destruição do tecido empresarial, é pura perfídia de linguagem. Não nos tentem iludir porque sabemos perfeitamente que o país está a andar para trás. Tais discursos são um atentado diário à inteligência dos portugueses. Em política vale tudo por um punhado de votos. Mentira, má despesa, demagogia, e até imbecilidades, tudo vale. Esta gente não evolui, não respeita.
Senhores, estamos fartos. Queremos a nossa esperança de volta, que por aqui anda perdida. Procuremos união para as nossas próprias soluções e oxalá encontremos saídas. O tempo é de resistência e de luta feroz. Boa sorte a todos enquanto cidadãos empenhados.

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