O governo e o primeiro-ministro vêm anunciar que há sinais
de recuperação económica…
Estamos nas 8ª e 9ª avaliações da TROIKA. De acordo com
alguns dados a que tive acesso, os indicadores das políticas seguidas durante o
período do resgate são:
1.
Dívida
pública em crescendo, à data de Junho de 2013 avaliada em 214,57 mil milhões de
euros; - 130% do PIB (segundo o último relatório do Banco de Portugal);
Comparando com os dados da PORDATA desde o início de 2012 até meados de 2013,
em apenas um ano e meio a dívida cresceu 22,6 %;
2.
Dívida
global (pública + privada) avaliada em mais de 400 000 mil milhões de euros;
3.
O
Produto Interno Bruto, em dois anos, 2011 e 2012, desceu de 171 046 mil milhões
de euros para 165 409 mil milhões de euros, ou seja uma quebra de 3,3% (dados
da PORDATA)
4.
Desde
2008, ano em que se declarou a crise financeira até à atualidade fecharam 246
761 empresas contra apenas 173 256 que foram criadas durante o mesmo período.
Até 2007 a tendência era justamente a inversa. (segundo dados do Observatório
Racius);
5.
Taxa
de desemprego a rondar os 20% da população ativa e 40% da população jovem que
está a entrar no mercado de trabalho;
6.
Doze
mil milhões de euros, uma fatia de 15% do dinheiro do resgate, destina-se a cobrir
imparidades, ou seja, vai para recapitalização dos bancos para buracos como o
do BPN! 40% (?) são para pagar juros da dívida e dívida, não obstante esta
continua a aumentar, bem como as metas do défice estão longe de ser cumpridas. O
restante dinheiro destina-se a fazer face a despesas do Estado e apenas um
valor residual entra como investimento na economia.
Estes são alguns indicadores pouco tranquilizadores,
melhor, muito inquietantes, que Portugal tem para apresentar.
A política de austeridade e de cortes cegos tem-se
traduzido da seguinte forma na sociedade portuguesa:
1.
Para
fazer face ao desequilíbrio das contas o governo aumentou desmesuradamente
impostos, retirou subvenções sociais, cortou nos salários, nas reformas, na
cultura, na educação…
2.
Existem
cerca de um milhão de desempregados e trezentos mil estão em situação de
trabalho precário;
3.
Com
redução drástica de recursos financeiros as famílias perderam uma boa parte do
seu poder económico, quando não se debatem já com sérios problemas de
subsistência;
4.
Com
um quadro económico e político instável, os investidores não investem em
Portugal;
5.
Sem
trabalho, os imigrantes partem e os portugueses emigram, contribuindo para a
desertificação e envelhecimento da população.
6.
O
país perde “massa cinzenta” porque os que agora emigram são os mais
qualificados e dinâmicos, em cuja formação o país investiu mas não aproveita.
7.
Gente
altamente qualificada vê-se forçada a aceitar tarefas não qualificadas e baixos
salários.
Não se constrói um país nestes moldes, vergado ao peso da
“soberania” de uma dívida que em última análise resultou de má gestão e
irresponsabilidade de sucessivos governos e da banca, empenhada no assédio e em
facilitismos sistemáticos ao endividamento do Estado, das empresas e das
famílias. A mesma banca que agora se financia através do estado, que somos nós
contribuintes.
Por outro lado, é de senso comum que para haver emprego
têm que existir empresas, dado que o Estado por si só, NÃO PODE, NEM DEVE ser o
principal empregador. Isso representa uma carga financeira que a sociedade
civil não consegue sustentar.
Quem contribuiu para o atual estado de coisas goza de uma
impunidade obscena, que nos revolta e envergonha a todos.
Um país não se constrói vergado a uma dívida que subjuga a
população e retira dela recursos para os dirigir aos bolsos de credores, que
assim retiram lucros imorais e astronómicos, à custa do erário público.
Não se constrói um país com empobrecimento real,
intelectual e moral. Reduzir o povo a pagador da dívida, é esmagar a nação e remeter
o povo à escravatura da nova era. Uma nação escravizada é uma nação sem
esperança.
Portugal é neste momento um país sem esperança.
Dizem-nos que devemos ser nós a dar a volta à crise, sendo
criativos e empreendedores!
Desculpem?! Ser criativo e empreendedor é uma mais-valia,
mas o país tem que dar condições e oportunidades que desenvolvam expetativas de
vida positivas, ou seja, ESPERANÇA, que nos dê a nós, Portugueses, a força
anímica para ser criativos e empreendedores.
Não sei como vamos sair disto, mas sei como muitos dos
meus compatriotas sabem, que este não é o caminho.
Há que negociar com os parceiros europeus a dívida em
benefício prioritário do interesse nacional, preservando a sustentabilidade
económica e a dignidade das pessoas. É isso que deve estar na mira dos
governantes de hoje e de amanhã. Para não chegarmos ao ponto de ser resgatados
apenas pela ótica dos credores a quem um país exaurido já não lhes rende.
É de crucial importância que nunca, mas nunca mais, o país
caia nas mãos de gente irresponsável que nos conduza a situações de colapso
financeiro como aconteceu até aqui.
Há que corrigir os desequilíbrios que beneficiam quem tem
o poder económico, as grandes empresas com monopólios de mercado, os bancos, e
quem está instalado nos grupos de influência com penetrações no poder político.
Há que combater a corrupção, pôr a justiça “mais justa” e a funcionar, há que
governar para as pessoas não para satisfazer interesses agiotas.
Há que reformar o Estado, o que não se limita a fazer uma
purga com despedimentos a granel, mas antes com critério, racionalidade e
orientação quanto ao papel a desempenhar pelo Estado na sociedade. Onde é que
esta discussão está a ser feita com seriedade?
Governa-se para a TROIKA ver, apenas e só, medidas avulsas
e contas de merceeiro.
Não acho que se deva responsabilizar a TROIKA, eles
desempenham o papel que lhes compete e este não é o seu país. Devemos
responsabilizar os governantes passados pelo descalabro a que nos fizeram
chegar, os atuais pelo embuste, até agora pela incapacidade negocial e pelo
desconhecimento do país real, pela imoralidade e pela incompetência na
aplicação de políticas que preservem o equilíbrio do tecido produtivo, o
respeito pelos cidadãos e a dignidade humana.
Não podemos pactuar com governantes cujo discurso tem como
único objetivo levar à desintegração da coesão social para levar a cabo medidas
desastrosas, colocando em oposição e confronto, como se de fações inimigas se
tratasse, privados e funcionários públicos, jovens e velhos, pensionistas e
trabalhadores. Discursos falsos que induzem a população em preceitos errados e
promovem a desunião. Chamar requalificação aos despedimentos, ajustamento ao
empobrecimento, dizer que vivemos acima das nossas possibilidades ou invocar
recuperação económica quando o que se observa é a destruição do tecido
empresarial, é pura perfídia de linguagem. Não nos tentem iludir porque sabemos
perfeitamente que o país está a andar para trás. Tais discursos são um atentado
diário à inteligência dos portugueses. Em política vale tudo por um punhado de votos.
Mentira, má despesa, demagogia, e até imbecilidades, tudo vale. Esta gente não
evolui, não respeita.
Senhores, estamos fartos. Queremos a nossa esperança de volta,
que por aqui anda perdida. Procuremos união para as nossas próprias soluções e
oxalá encontremos saídas. O tempo é de resistência e de luta feroz. Boa sorte a
todos enquanto cidadãos empenhados.
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