Tudo
se disse e tudo foi posto a nu nas reações originadas pelo já célebre manifesto
dos 70 para a reestruturação da dívida.
Não vou aqui entrar
em demonstrações sobre a necessidade da reestruturação, porque isso está bem
claro no manifesto e em muito do que se tem dito e escrito, até porque não
tenho domínio técnico na matéria. Vou direta áquilo que quero expressar e é
minha opinião.
Em primeiro lugar
saliento que não é comum, ou é mesmo muito invulgar que uma série de pessoas
credíveis de um leque alargado do espetro político e social, numa atitude de
diálogo tivesse convergido num consenso e com ele viesse marcar uma posição refletida
relativamente ao rumo que o país deve atalhar, ou tentar atalhar, através da
negociação com os parceiros económicos e credores, para recolocar o país numa
via de crescimento sustentável. Facto notável que denota uma capacidade
inusitada de diálogo e de responsabilidade participada na coisa pública, um
verdadeiro ato de cidadania.
Obviamente que a
classe política, especialmente o primeiro-ministro, pouco habituada a
iniciativas emergentes de outros quadrantes que não da sua esfera de poder em
sentido estrito, vêm nesta atitude uma invasão aos seus domínios, e desconfiam de
quem se atreve a tais investidas atentatórias das suas políticas
inquestionáveis. Sobretudo o primeiro-ministro, porque esta tem sido a política
que espelha a sua visão pessoal do país e para o país. Ou tem vistas curtas ou
tem rabos de palha! Talvez não consiga ou não saiba fazer melhor. Seja qual for
a motivação ele está convencido que este é o caminho.
Já estamos
habituados a que nos tentem vender a ideia de que não existe “Plano B” que o
caminho a trilhar não tem alternativa de percurso e o nosso futuro depende do
rumo que nos querem impor, a pretexto de que, se assim não for, o país
implodirá.
Todos sabemos que
isso é falso e em política há sempre alternativas. Também é verdade que tudo
tem um preço, consequências, resultados… O que me importa a mim e aos meus
compatriotas que dão o corpo ao manifesto por este país de forma honesta e
trabalhadora, é saber o que é mais justo e mais assertivo em prol do interesse
nacional e do país no seu todo, não estou a falar do país refém de grupos
fechados ao serviço dos interesses dos mercados especuladores, numa espécie de
economia feudal instituída. Quem já por cá anda há alguns anos sabe o que é a
propaganda, sabe que o que se diz não é o que se faz e o que se faz não é o que
deveria ser feito, pese embora seja apresentado como A SOLUÇÃO ou a POLÍTICA
CERTA.
Querem-nos bem
comportados, o mesmo é dizer, querem-nos com medo. Medo de quê? De ficarmos
pobres? Mas já somos! De ficar sem trabalho? Mas já não temos. Que não nos emprestem
dinheiro? Não! Porventura temem que um dia não precisemos de dinheiro
emprestado! Querem-nos pobres q.b. porque os pobres são quem paga juros altos para
ficarem ainda mais pobres e pagarem mais juros e ainda mais altos! Mas sem nos
tirarem completamente o ar, dão-nos um canudo para ir respirando devagarinho.
Portugal pobre é um bom negócio, não produz porque não tem dinheiro para
investir, por isso tem que comprar o que consome, paga mais pelo que pede
emprestado e é obrigado a pedir mais emprestado para pagar o que deve. Este é o
paradigma dos mercados. Por isso nos querem bem comportados. A ditadura do
século XXI é a subjugação dos povos aos mercados.
Por isso, quando
alguém se levanta, da esquerda à direita, e reclama que este não é o caminho e
as condições para pagar a dívida devem ser renegociadas de forma a aliviar o
garrote a que nos submeteram, todo o edifício treme, com ameaças de que vai
ruir. Não vai; está a ruir e vai ruir se não se fizer nada para o evitar.
Não se trata de
perdoar a dívida, mas de rever as condições para a pagar sem sufocar a boa
gente. Pois se a dívida existe, alguém a contraiu, e se esses não a pagam, como
já se percebeu, e temos que ser nós contribuintes a pagá-la, quem nos
representa que nos represente e nos defenda das garras do capitalismo selvagem em
vez de nos sacrificar às mãos desses carrascos. Numa sociedade civilizada e
alegadamente democrática, que eu saiba, as pessoas ainda contam e o dinheiro
não é um valor em si. O valor está em quem trabalha e produz riqueza.
Fui das que achei o
resgate uma solução de recurso inadiável depois do atoleiro em que estávamos metidos.
Mas ao cabo deste tempo está mais que demonstrado que o tratamento de choque
tem que dar lugar uma terapia de recuperação. Caso contrário a situação do país
agravar-se-á numa morte lenta mas cada vez mais rápida, como demonstra o
agravamento da dívida portuguesa: o ponto de chegada acaba por ser pior que o
ponto de partida, com a agravante que o país estará mais exaurido para poder
recuperar, sem dinheiro e sem gente.
Neste grupo de
subscritores, ao lado do qual eu me posiciono, não perceciono ninguém que queira
mal ao seu próprio pais. Nós somos o país! Para o bem e para o mal! O momento
não é oportuno? Nunca foi tão oportuno… O primeiro-ministro é que não quer ou
não sabe fazer diferente!